Onconews - Diretrizes estratificadas por recursos orientam estratégias de controle do câncer em países de baixa e média renda

Países de baixo e médio rendimento devem investir no controle do câncer de forma econômica e gradual para alcançar os melhores resultados para os pacientes no menor tempo possível e com a alocação mais racional de recursos, recomendam Gilberto Lopes (foto) e colegas, em editorial na JCO Global Oncology.

Os autores lembram que a transição demográfica, que levou a maior parte da população mundial para as cidades nos últimos 50 anos, expôs bilhões a mudanças significativas no estilo de vida, incluindo maior consumo de alimentos processados, álcool e uso de tabaco, além da exposição a toxinas, levando a um aumento correspondente na carga de câncer em países de baixa e média renda ( (LMIC, na sigla em inglês). “Estima-se que dentro de uma década, três quartos de todos os pacientes com câncer e mortes ocorrerão em LMICs, que podem enfrentar muitos desafios, incluindo falta de financiamento e barreiras financeiras, infraestrutura e treinamento de assistência médica abaixo do ideal e, consequentemente, disparidades cada vez maiores em todos os aspectos do controle do câncer em comparação com cenários de altos recursos”, analisam.

Em um análise que destaca a importância de priorizar as melhores práticas de tratamento para atender mais efetivamente às necessidades de assistência médica em regiões de recursos limitados, onde os pacientes comumente apresentam doença mais avançada ao diagnóstico, Lopes e colegas  sublinham que a alocação de recursos deve ser orientada para maximizar os resultados. “As diretrizes estratificadas por recursos (RSGs, na sigla em inglês) visam fornecer pontos de partida que devem ser flexíveis, baseados em evidências e ter potencial para implementação eficaz em ambientes com recursos limitados”.

Apesar da publicação de diretrizes regionais e específicas para cada país, os autores apontam iniciativas como a da Breast Health Global Initiative, que fundou um modelo global de RSGs em câncer de mama, assim como o esforço da própria ASCO (Associação Americana de Oncologia Clínica), que aproveitou sua experiência no desenvolvimento de diretrizes de prática clínica baseadas em evidências e a diversidade de seus comitês de Assuntos Internacionais para publicar suas primeiras diretrizes sobre câncer cervical em 2016. “Desde então, a JCO Global Oncology (JCO GO) se tornou o veículo para a publicação e disseminação dos RSGs da ASCO”, escreve o editorial.

Embora seus benefícios sejam claros, as RSGs não estão isentas de controvérsias ou desafios, principalmente no que se refere à sua adoção, implementação e monitoramento, prosseguem os autores. “Concluindo, as RSGs podem desempenhar papel crucial no enfrentamento da carga global do câncer, especialmente em países de baixa e média renda e outras regiões com recursos limitados. Para concretizar seu potencial, precisamos envolver todas as partes interessadas na melhoria implementação por meio da educação, colaboração com governos, formuladores de políticas, indústria, equipes de saúde, pacientes e famílias; pesquisa de implementação e disseminação de melhores práticas”, propõem.

O oncologista brasileiro Gilberto Lopes é o Editor-Chefe da JCO Global Oncology.

Referência:

Temidayo Fadelu et al., JCO Global Oncology Editorial on Resource-Stratified Guidelines. JCO Glob Oncol 10, e2400184(2024).
DOI:10.1200/GO.24.00184