Um curso mais breve de radioterapia pós-mastectomia (PMRT) foi seguro e eficaz para pacientes com câncer de mama submetidas à reconstrução mamária e provou ser não inferior a um curso mais longo de tratamento, como demonstram resultados do estudo de fase 3 RT CHARM (Alliance A221505) apresentado na ASTRO 2024 por Matthew M. Poppe (foto), da Universidade de Utah.
Neste estudo randomizado e de não-inferioridade (NCT03414970), o objetivo foi avaliar a radioterapia hipofracionada após mastectomia em pacientes com reconstrução mamária concluída ou em andamento, comparando 25 frações versus 16 frações de radiação diária. O desfecho primário considerou complicações da reconstrução (cicatrização, readmissão hospitalar, contratura capsular, reoperação não planejada, falha da reconstrução).
Foram inscritas mulheres com câncer de mama invasivo unilateral, pT0-2 pN1-2 ou pT3N0, ou clinicamente estadiadas antes da quimioterapia neoadjuvante (NAC), que estavam planejando reconstrução mamária tardia ou imediata e PMRT. As pacientes elegíveis foram randomizadas 1:1 para 50,0 Gy em 25 frações ou 42,56 Gy em 16 frações, administrados 5 dias/semana usando técnicas de fótons. O estudo foi projetado para testar a não inferioridade da PMRT hipofracionada comparada à convencional, com margem de não inferioridade de 10%, assumindo uma taxa de complicação de 25% no braço convencional.
De 2018 a 2021, 898 pacientes foram inscritas, a partir de 209 centros nos Estados Unidos e Canadá. As características das pacientes foram bem equilibradas entre os braços de análise, com idade média de 49 anos, 14% com predisposição genética conhecida, 6% com diabetes e 67% com índice de massa corporal > 25. Do total de participantes, 51% receberam NAC; 37% receberam quimioterapia adjuvante. 63 mulheres saíram do estudo antes que o evento primário pudesse ser analisado.
Em um seguimento mediano de 4,5 anos, 572 pacientes concluíram a reconstrução, 45% tiveram reconstrução imediata e 55% tardia (atraso médio de 265 dias), 57% tiveram apenas implantes e 43% reconstrução autóloga com ou sem implantes.
Os autores descrevem que a incidência de complicações da reconstrução em 24 meses foi de 14% (59/422) com hipofracionamento vs 11,7% (47/403) com PMRT convencional, diferença estimada de 2,3%, IC de 95% = 2,2% a 6,9%, P = 0,0005. A taxa de complicação foi reduzida (independentemente do braço) com reconstrução autóloga versus apenas com implante, razão de risco de 0,504, P = 0,0059. As taxas de toxicidade aguda e tardia não foram estatisticamente diferentes entre os braços. Recorrências locais ou regionais de trinta e seis meses ocorreram em 1,5%, IC de 95% = (0,7-3,3% dos pacientes hipofracionados e 2,3%, IC de 95% = 1,1-4,6% dos pacientes convencionais.
“Um curso de 16 frações de PMRT hipofracionada parece seguro e eficaz para pacientes submetidas à reconstrução mamária e não é inferior ao curso tradicional de 25 frações de PMRT”, concluem os autores.
O encontro anual da American Society for Radiation Oncology (ASTRO) foi realizado de 29 de setembro a 2 de outubro, em Washington.
Referência:
A Randomized Trial of Hypofractionated Post-Mastectomy Radiation Therapy (PMRT) in Women with Breast Reconstruction (RT CHARM, Alliance A221505). Poppe, M.M. et al. International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics, Volume 120, Issue 2, S11