Análise post hoc de dados agrupados de 12 ensaios randomizados, promovidos pelo Instituto Nacional do Câncer de Nápoles, Itália, buscou descrever a taxa de subnotificação de sintomas selecionados e explorar sua associação com a sobrevida global (SG). Os resultados estão em artigo de Arenare et al. no ESMO Open e mostram que a subnotificação de efeitos colaterais do tratamento oncológico é frequente, mas não afeta a SG.
Neste estudo, os pesquisadores consideraram 12 estudos prospectivos que recrutaram pacientes entre 2002 e 2019, com análises primárias publicadas. A ocorrência e o grau de seis efeitos colaterais (anorexia, náusea, vômito, constipação, diarreia e fadiga) relatados pelos médicos foram comparados com os sintomas correspondentes relatados pelos pacientes em questionários de qualidade de vida. A subnotificação foi definida como a taxa de casos notificados com grau 0 pelo médico e grau ≥1 pelo paciente. O valor prognóstico foi testado em um modelo multivariável estratificado por ensaio, incluindo idade, sexo e status de desempenho como fatores de confusão. Um limite de referência foi definido para análises de SG.
A base de análise considerou 2603 pacientes com câncer avançado de pulmão, ovário, pâncreas, mama ou colorretal, com pelo menos uma avaliação de toxicidade e um questionário de qualidade de vida, antes do primeiro reestadiamento planejado. Os autores descrevem que a concordância entre os relatos dos médicos e dos pacientes foi baixa, com os coeficientes k de Cohen variando de 0,03 (fadiga) a 0,33 (vômitos). A subnotificação variou de 52,7% (náuseas) a 80,5% (anorexia) e não foi associada à SG. Anorexia, vômitos e fadiga relatados pelo paciente (‘um pouco’ ou mais) foram significativamente associados a SG mais curta.
Em conclusão, o estudo italiano mostra que a subnotificação de efeitos colaterais do tratamento oncológico é frequente, mas não afeta a SG. A análise confirma achados anteriores quanto ao alto índice de subnotificação e amplia o conhecimento sobre o possível valor prognóstico da anorexia, vômito e fadiga, sendo esta última prognóstica apenas quando relatada pelos pacientes.
Arenare e colegas destacam que a subnotificação de sintomas tem diversas consequências negativas. Além de diminuir a qualidade do conhecimento sobre o perfil de toxicidade dos novos medicamentos, pode reduzir a atenção dos médicos aos cuidados de suporte, piorando a qualidade de vida dos pacientes, com potencial de afetar negativamente a adesão ao tratamento e o prognóstico dos pacientes.
Referência: Open Access. Published: March 06, 2024. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2024.102941