Análise de doença residual molecular (DRM) baseada no DNA tumoral circulante tem o potencial de prever a recorrência do câncer de pulmão de células não pequenas e orientar o tratamento adjuvante com osimertinibe em pacientes com mutação EGFR, como aponta análise post hoc do estudo ADAURA publicada na Nature Medicine. “Se validado para a prática clínica, o uso sistemático do monitoramento de DRM tem o potencial de personalizar o atendimento pós-adjuvante e melhorar os resultados ao identificar pacientes de alto risco que poderiam se beneficiar do reinício ou intensificação do tratamento”, destacam os autores.
Osimertinibe é um inibidor de tirosina quinase (TKI) do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) de terceira geração, com eficácia demonstrada em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação do EGFR (deleção do exon 19 (Ex19del)/L858R).
O tratamento com osimertinibe adjuvante por duração de 3 anos é recomendado para CPCNP estágio IB–IIIA em pacientes com mutação de EGFR (EGFRm) após ressecção cirúrgica, com base nos resultados do estudo de fase 3 ADAURA. Na análise primária do ADAURA, osimertinibe adjuvante demonstrou melhora clínica e estatisticamente significativa na sobrevida livre de doença (SLD) versus placebo nessa população de pacientes, com ou sem quimioterapia anterior. Análise atualizada com acompanhamento adicional de 2 anos mostrou que o benefício de SLD foi sustentado e se traduziu em melhora significativa de sobrevida global (SG), com taxa de SG de 88% no grupo osimertinibe versus 78% no grupo placebo (razão de risco (HR) de 0,49 (P < 0,001). A análise também aponta tendência a uma taxa aumentada de SLD após a conclusão dos 3 anos de tratamento, sugerindo que alguns pacientes podem se beneficiar de uma duração mais longa de osimertinibe. No entanto, determinar quais pacientes se beneficiariam de uma duração de tratamento mais longa permanece um desafio.
Para avaliar se a doença residual molecular (DRM) baseada no DNA tumoral circulante e informada pelo tumor pode prever a recorrência, Roy S. Herbst e colegas realizaram análise post hoc exploratória do ADAURA, considerando 220 pacientes (n = 112 osimertinibe; n = 108 placebo).
Os resultados relatados na Nature Medicine mostram que a DRM precedeu eventos de SLD detectados por exames de imagem por uma mediana de 4,7 meses (intervalo de confiança de 95%, 2,2–5,6) meses. A taxa livre de eventos de SLD e DRM em 36 meses foi de 86% versus 36% para pacientes nos grupos osimertinibe versus placebo (razão de risco, 0,23 (intervalo de confiança de 95%, 0,15–0,36). No grupo osimertinibe, eventos de SLD ou DRM foram detectados em 28 (25%) pacientes, a maioria após a cessação de osimertinibe (68%) e dentro de 12 meses da interrupção (58%). Em 24 meses após osimertinibe, a taxa livre de eventos de SLD e DRM foi de 66%.
Em síntese, DRM precedeu eventos de SLD na maioria dos pacientes em ambos os braços. O status livre de eventos de SLD e DRM foi mantido para a maioria dos pacientes durante o tratamento adjuvante com osimertinibe e o acompanhamento pós-tratamento, com a maioria dos eventos de DRM ou SLD ocorrendo após a descontinuação ou conclusão do tratamento com osimertinibe.
Esses resultados indicam que a detecção de DRM tem o potencial de identificar pacientes que podem se beneficiar de tratamento mais longo com osimertinibe adjuvante. “A detecção de DRM através de ensaios de mutações derivadas de tumores em ctDNA oferece uma ferramenta sensível para identificar o risco de recorrência da doença após tratamento com intenção curativa antes da avaliação radiológica em pacientes com CPCNP EGFRm ressecado”, analisam os autores.
A íntegra do artigo de Herbst et al. está disponível em acesso aberto.
Referência:
Herbst, R.S., John, T., Grohé, C. et al. Molecular residual disease analysis of adjuvant osimertinib in resected EGFR-mutated stage IB–IIIA non-small-cell lung cancer. Nat Med (2025). https://doi.org/10.1038/s41591-025-03577-y