Onconews - Estudo brasileiro avalia resultados oncológicos da cirurgia conservadora da mama versus mastectomia após QT NEO

Estudo brasileiro avaliou a recorrência local, recorrência à distância e morte em pacientes não metastáticas submetidas à cirurgia conservadora da mama ou mastectomia após os atuais regimes de quimioterapia neoadjuvante (NAC). “Nesta coorte de pacientes tratadas para câncer de mama não metastático em instituições com recursos financeiros limitados, a cirurgia conservadora da mama provou ser uma opção segura após a quimioterapia neoadjuvante, mesmo em casos de doença localmente avançada”, afirmaram os autores. Os mastologistas Francisco Pimentel (na foto, ao centro) e Felipe Zerwes (à esquerda) são os primeiros autores do estudo; o mastologista Antônio Luiz Frasson (à direita) é o autor sênior. Os resultados foram publicados na Scientific Reports.

No estudo, foram avaliadas pacientes submetidas à quimioterapia neoadjuvante (NAC) entre 2013 e 2023 (n = 365; mastectomia: 165; cirurgia conservadora: 200). Mais pacientes submetidas à mastectomia tinham mais de 70 anos (12,7% versus 7%; p = 0,02) e apresentavam tumores T4b (16,4% versus 4,5%; p = 0,0003), enquanto mais pacientes tratadas com cirurgia conservadora (BCS) tinham axila com linfonodo negativo (42% versus 31,5%; p = 0,02).

Após um acompanhamento médio de 65 meses (intervalo: 4-124), a recorrência local (RL) e a recorrência à distância (RD) foram semelhantes nos grupos de mastectomia e cirurgia conservadora da mama (4,8% versus 5,0%; p = 0,95 e 10,9% versus 9%; p = 0,58, respectivamente). Mais mortes ocorreram no grupo de mastectomia (8,5% versus 3%; p = 0,03).

A sobrevida livre de recorrência local em dez anos foi maior no grupo submetido à cirurgia conservadora (98,5% versus 95%; HR: 3,41; 1,09–10,64; p = 0,03), enquanto a sobrevida livre de recorrência à distância em 10 anos foi semelhante em ambos os grupos (91% BCS versus 89% mastectomia, HR: 1,25; 0,65–2,42; p = 0,4).

A sobrevida global foi melhor no grupo BCS (97% versus 91,5%; HR: 2,62; 1,06–6,69; p = 0,03). A sobrevida livre de doença estimada em 10 anos, estratificada de acordo com o estágio do tumor, não mostrou diferença significativa, exceto para a doença T4, para a qual o risco foi maior no grupo da mastectomia (94,5% versus 81,8%; HR: 2,86, 1,54–5,30, p = 0,0008).

Na análise multivariada, o estadiamento T3/T4 (OR: 4,37, 1,03–21,91; p = 0,04) e a dissecção axilar (OR: 5,11, 1,14–35,52; p = 0,04) foram associados à recorrência local no grupo de cirurgia conservadora.

Em síntese, nesta coorte contemporânea, multicêntrica e retrospectiva de pacientes tratadas para câncer de mama não metastático em instituições com recursos financeiros limitados, a cirurgia conservadora de mama provou ser uma opção segura à mastectomia após tratamento com quimioterapia neoadjuvante, mesmo em casos de doença localizada avançada. “Esses achados corroboram outras análises recentes, e mais estudos são necessários para confirmar os achados”, concluem os autores.

Além de Francisco Pimentel (Hospital Geral de Fortaleza), Antônio Luiz Frasson (Hospital Israelita Albert Einstein) e Felipe Pereira Zerwes (PUCRS), o estudo contou com a participação dos pesquisadores brasileiros Ryane Alcantara (Hospital Geral de Fortaleza), Eduardo Camargo Millen (Americas Oncologia), Andre Mattar (Hospital da Mulhe/Oncoclínicas), Marcelo Antonini (Hospital do Servidor Público Estadual), Anne Dominique Nascimento Lima (Clínica Lila, Caxias D’Or), José Bines (INCA e Rede D’Or), Fabrício Palermo Brenelli (UNICAMP), Guilherme Garcia Novita (Oncoclínicas), Anastacio Berretini Junior (Hospital Salvalus), Rafael Henrique Szymanski Machado (Hospital Federal da Lagoa), Alessandra Borba Anton de Souza (PUCRS), Danielle Calheiros Campelo (Universidade Federal do Ceara - UFC) e Rene Aloisio da Costa Vieira (UNESP/ Hospital do Câncer de Muriaé).

Referência:

Cavalcante, F.P., Zerwes, F.P., Alcantara, R. et al. Oncological outcomes of breast-conserving surgery versus mastectomy following neoadjuvant chemotherapy in a contemporary multicenter cohort. Sci Rep 15, 9032 (2025). https://doi.org/10.1038/s41598-025-93491-7