Onconews - Análise de longo prazo confirma ganho de sobrevida com EV no câncer urotelial

EDUARDO ZUCCA BXO tratamento com enfortumabe vedotina (EV) demonstrou benefício em relação à quimioterapia no carcinoma urotelial avançado previamente tratado. Artigo de Rosenberg et al. no Annals of Oncology mostra análise de 2 anos de acompanhamento após a publicação dos resultados iniciais, com redução de aproximadamente 30% no risco de morte e de 37% no risco de progressão da doença ou morte. "Esses resultados mostram que enfortumabe vedotina se consolida como opção de tratamento para pacientes com câncer urotelial", avalia o oncologista Eduardo Zucca (foto).

Neste estudo randomizado de fase 3 (EV-301) foram inscritos pacientes com carcinoma urotelial localmente avançado/metastático expostos à quimioterapia prévia contendo platina, que progrediram durante ou após o tratamento com inibidor de checkpoint imune (anti PD-1/PD-L1). Os pacientes elegíveis foram randomizados para enfortumabe vedotina ou quimioterapia (docetaxel, paclitaxel, vinflunina). Os endpoints foram sobrevida global (primária), sobrevida livre de progressão (SLP), resposta objetiva e segurança.

No total, foram incluídos 608 pacientes (enfortumabe vedotina, n = 301; quimioterapia, n = 307). Com acompanhamento médio de 23,75 meses, os autores descrevem a ocorrência de 444 mortes (enfortumabe vedotina, n = 207; quimioterapia, n = 237). Os resultados mostram que o risco de morte foi reduzido em 30% com enfortumabe vedotina versus quimioterapia (HR 0,70 [IC 95%, 0,58 a 0,85]; unilateral, log-rank P = 0,00015).  A SLP também foi melhor com enfortumabe vedotina (HR 0,63 [IC 95%, 0,53 a 0,76]; unilateral, log-rank P < 0,00001).

Em relação à segurança/tolerabilidade, as taxas de eventos adversos relacionados com o tratamento foram de 93,9% para enfortumabe vedotina e de 91,8% para quimioterapia. As taxas de eventos de grau ≥ 3 foram de 52,4% e 50,5%, respectivamente. A análise de Rosenberg e colegas também mostra que a diminuição da contagem de neutrófilos relacionada com o tratamento de grau ≥ 3 (14,1% vs 6,1%), a diminuição da contagem de glóbulos brancos (7,2% vs 1,4%) e a anemia (7,9% vs 2,7%) foram mais comuns com quimioterapia versus enfortumabe vedotina, enquanto erupção cutânea maculopapular (7,4% vs 0%), fadiga (6,8% vs 4,5%) e neuropatia periférica (5,1% vs 2,1%) foram mais comuns com enfortumabe vedotina.

Eventos adversos de interesse especial, reações cutâneas relacionadas ao tratamento ocorreram em 47,3% dos pacientes que receberam enfortumabe vedotina e em 15,8% dos pacientes que receberam quimioterapia; neuropatia periférica ocorreu em 48,0% versus 31,6%, respectivamente, e hiperglicemia em 6,8% versus 0,3%.

“Após acompanhamento médio de aproximadamente 2 anos, enfortumabe vedotina manteve benefício de sobrevida global clinicamente significativo versus quimioterapia, consistente com os resultados da análise primária do estudo EV-301; a SLP e o benefício da resposta global permaneceram consistentes”, concluem os autores, acrescentando que os eventos adversos foram controláveis e nenhum novo sinal de segurança foi observado.

Este é o primeiro relato de dados de acompanhamento de longo prazo do estudo de fase 3 EV-301, com resultados indicando que após acompanhamento médio de aproximadamente 2 anos, os resultados de eficácia e segurança foram consistentes com os resultados de todas as fases, incluindo a análise interina/primáriade EV-301.

Após quase 24 meses de acompanhamento, o risco de morte foi reduzido em aproximadamente 30% e o risco de progressão da doença ou morte foi reduzido em aproximadamente 37% no grupo de enfortumabe vedotina em comparação com o grupo de quimioterapia. “Esta melhoria consistente demonstra a robustez do benefício de sobrevida global. Aproximadamente 30% dos pacientes tratados com enfortumabe vedotina neste ensaio estavam vivos aos 2 anos, em comparação com aproximadamente 20% dos pacientes tratados com quimioterapia”, destacam os autores.

"Vale notar os dados de subgrupos que mais se beneficiaram, o que pode se refletir na prática clínica, que são aqueles pacientes mais jovens, abaixo de 65 anos, expostos a até duas linhas de tratamento prévio", avalia Zucca. "O carcinoma urotelial é uma doença grave quando metastática, mas com essas novas terapias estamos conseguindo melhorar qualidade de vida com sobrevida nesses pacientes. Os anticorpos conjugados vêm promovendo uma revolução, ganhando espaço crescente e abrindo caminho para uma nova era na oncologia, conclui.

Enfortumabe vedotina é um conjugado anticorpo-droga dirigido contra Nectina-4 (altamente expresso no carcinoma urotelial). 

Referência: Rosenberg JE, Powles T, Sonpavde GP, Loriot Y, Duran I, Lee JL, Matsubara N, Vulsteke C, Castellano D, Mamtani R, Wu C, Matsangou M, Campbell M, Petrylak DP. EV-301 long-term outcomes: 24-month findings from the phase III trial of enfortumab vedotin vs chemotherapy in patients with previously treated advanced urothelial carcinoma. Ann Oncol. 2023 Sep 5:S0923-7534(23)00832-3. doi: 10.1016/j.annonc.2023.08.016. Epub ahead of print. PMID: 37678672.