Apesar dos avanços na irradiação torácica e craniana, uma parcela importante de pacientes com câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) desenvolve metástase cerebral, destacando a importância de identificar pacientes de alto risco para estratégias personalizadas de triagem e tratamento. Pesquisa que buscou identificar biomarcadores no CPPC para risco de metástase cerebral e a eficácia da irradiação craniana profilática traz novos insights para orientar a tomada de decisão. Os resultados estão na Lung Cancer.
O câncer de pulmão de pequenas células (CPPC) é uma malignidade agressiva com prognóstico ruim. O CPPC em estágio limitado (LS) compreende apenas um terço dos casos de CPPC, resultando em terapias e opções de tratamento moleculares limitadas.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram biópsias de tumores basais de 180 pacientes com CPPC LS que receberam quimiorradioterapia definitiva de primeira linha (dCRT) usando um painel pan-câncer de 474 genes. A incidência cumulativa de metástases cerebrais foi calculada, com a morte classificada como um risco competitivo. Fatores prognósticos independentes para risco de metástases cerebrais(BM, do inglês brain metastasis) foram identificados usando o modelo Fine-Gray.
Os resultados revelam que alterações na via do ciclo celular, particularmente mutações RB1, foram mais comuns em pacientes com metástases cerebrais, enquanto mutações FLT4 foram mais frequentes naqueles sem BM (P=0,002 e P=0,021, respectivamente).
Fatores de risco significativos para BM incluem tabagismo (razão de risco de subdistribuição [SHR]: 1,73; intervalo de confiança [IC] de 95%: 1,11–2,70; P=0,016), mutações RB1 (SHR: 2,19; IC de 95%: 1,27–3,81; P=0,005) e amplificação BCL3 (SHR: 2,27; IC de 95%: 1,09–4,71; P=0,028). Por outro lado, a irradiação craniana profilática (PCI) (SHR: 0,39; IC de 95%: 0,25–1,60; P<0,001), mutações FLT4 (SHR: 0,26; IC de 95%: 0,07–0,98; P=0,047) e alterações na via NOTCH (SHR: 0,65; IC de 95%: 0,43–1,00; P=0,049) foram associadas a uma menor incidência de BM na população avaliada.
A análise mostra que a irradiação craniana profilática (ICP) de consolidação não reduziu o risco de BM em pacientes com mutações RB1 basais, com probabilidades de ocorrência de BM de 34,7% em 20 meses e 62,6% em 40 meses.
“Nosso estudo produz insights valiosos sobre as características genéticas de pacientes com CPPC com doença em estágio limitado com e sem BM, auxiliando no desenvolvimento de estratégias de tratamento personalizadas”, destacam os autores. “Identificar fatores de risco associados à incidência e ao momento da BM, dentro do regime padrão de quimiorradioterapia definitiva seguido por ICP pode ajudar a otimizar a tomada de decisão clínica para essa população de pacientes”, sublinham.
Referência:
A biomarker exploration in Small-Cell lung cancer for brain metastases risk and prophylactic cranial irradiation therapy efficacy
Li, Li et al. Lung Cancer, DOI: 10.1016/j.lungcan.2024.107959