A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de enzalutamida como monoterapia ou em combinação com terapia de privação androgênica para o tratamento de pacientes com câncer de próstata não metastático hormônio-sensível (nmHSPC) com recorrência bioquímica (BCR) de alto risco que são inadequados para radioterapia de resgate1. Baseada nos resultados do estudo de Fase 3 EMBARK2, a decisão foi publicada no Diário Oficial da União dia 29 de abril.
Apresentado em sessão plenária durante o 2023 American Urological Association Annual Meeting e posteriormente publicado na New England Journal of Medicine (NEJM)2, o ensaio clínico de Fase 3 EMBARK (NCT02319837), multinacional, duplo-cego, controlado por placebo, incluiu 1.068 pacientes com câncer de próstata hormônio-sensível não metastático (nmHSPC) com recorrência bioquímica (BCR) de alto risco em locais nos EUA, Canadá, Europa, América do Sul e região Ásia-Pacífico.
Os pacientes considerados com BCR de alto risco tiveram um tempo de duplicação do antígeno específico da próstata (PSA-DT) ≤ 9 meses; testosterona sérica ≥ 150 ng/dL (5,2 nmol/L); e triagem de PSA pelo laboratório central ≥ 1 ng/mL se eles fizeram uma prostatectomia radical (com ou sem radioterapia) como tratamento primário para câncer de próstata, ou pelo menos 2 ng/mL acima do nadir se eles fizeram radioterapia apenas como tratamento primário para câncer de próstata. Os pacientes no estudo EMBARK foram randomizados (1:1:1) para receber enzalutamida 160 mg por dia mais leuprolida (n=355), enzalutamida 160 mg como agente único (n=355) ou placebo mais leuprolida (n=358). Leuprolida 22,5 mg foi administrada a cada 12 semanas.
O EMBARK atingiu seu endpoint primário de sobrevida livre de metástase (MFS) para o braço enzalutamida mais leuprolida, demonstrando uma redução estatisticamente significativa no risco de metástase ou morte em relação ao placebo mais leuprolida. A MFS é definida como a duração do tempo em meses entre a randomização e a primeira evidência objetiva de progressão radiográfica por imagem central ou morte por qualquer causa, o que ocorrer primeiro.
O estudo também alcançou um endpoint secundário importante, ao demonstrar que os pacientes tratados com enzalutamida em monoterapia tiveram uma redução estatisticamente significativa no risco de metástase ou morte em comparação com placebo mais leuprolida.
A sobrevida livre de metástases em cinco anos foi de 87,3% no braço da enzalutamida, em comparação com 71,4% no grupo placebo mais leuprolida e 80% no grupo da enzalutamida em monoterapia, de acordo com resultados publicados na New England Journal of Medicine.
Eventos adversos (EAs) de grau 3 ou superior foram observados em 46% dos pacientes que receberam enzalutamida mais leuprolida, 50% dos pacientes tratados com enzalutamida como agente único e 43% dos pacientes que receberam placebo mais leuprolida. A descontinuação permanente devido a EAs foi relatada em 21% daqueles que receberam enzalutamida mais leuprolida, 18% daqueles que receberam enzalutamida em monoterapia e 10% daqueles que receberam placebo mais leuprolida.
Outro aspecto importante é a possibilidade de incluir uma pausa no tratamento (treatment holiday), permitindo que os pacientes interrompam o medicamento após um período de sucesso. Isso pode reduzir a carga do tratamento e os potenciais efeitos colaterais, permitindo que não ocorra impacto negativo na qualidade de vida3.
“O estudo EMBARK fornece evidências sólidas da eficácia de enzalutamida em estágios precoces da doença, oferecendo aos pacientes uma opção terapêutica que não apenas combate a progressão do câncer, mas também preserva a qualidade de vida.” afirma o uro-oncologista Murilo Luz.
Dos homens que foram submetidos a um tratamento definitivo para câncer de próstata, incluindo prostatectomia radical, radioterapia ou ambas, estima-se que 20-40% irão sofrer recorrência bioquímica (BCR) em até 10 anos. Cerca de nove em cada 10 homens com BCR de alto risco desenvolverão doença metastática, e um em cada três morrerá como resultado do câncer de próstata metastático.
Referências:
2 - Improved Outcomes with Enzalutamide in Biochemically Recurrent Prostate Cancer - Stephen J. Freedland, M.D., Murilo de Almeida Luz, M.D., Ugo De Giorgi, M.D., Ph.D., Martin Gleave, M.D., Geoffrey T. Gotto, M.D., M.P.H., Christopher M. Pieczonka, M.D., Gabriel P. Haas, M.D., Choung-Soo Kim, M.D., Miguel Ramirez-Backhaus, M.D., Antti Rannikko, M.D., Ph.D., Jamal Tarazi, M.D., M.P.A., Swetha Sridharan, M.B., B.S., Jennifer Sugg, M.S., Yiyun Tang, Ph.D., Ronald F. Tutrone, Jr., M.D., Balaji Venugopal, M.B., B.S., M.D., Arnauld Villers, M.D., Ph.D., Henry H. Woo, M.B., B.S., D.Med.Sc., Fabian Zohren, M.D., Ph.D., and Neal D. Shore, M.D. October 19, 2023. N Engl J Med 2023; 389:1453-1465. DOI: 10.1056/NEJMoa2303974
3 - Freedland SJ, Gleave M, De Giorgi U, et al Enzalutamide and Quality of Life in Biochemically Recurrent Prostate Cancer. NEJM Evid. 2023 Dec;2(12):EVIDoa2300251.