A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de isatuximabe (Sarclisa®, Sanofi) combinado ao regime carfilzomibe-dexametasona em pacientes com mieloma múltiplo recidivado e refratário, representando nova opção de tratamento para essa população de pacientes. A decisão da Anvisa foi publicada 11 de julho no Diário Oficial da União (DOU nº129)1 e é baseada nos resultados do estudo IKEMA2, demonstrando que a adição de isatuximabe aumentou de 1,6 para 3 anos a mediana de sobrevida livre de progressão, melhorando significativamente a profundidade da resposta.
O anticorpo anti-CD38 isatuximabe (Isa) em combinação com carfilzomibe-dexametasona (Kd) é aprovado em vários países para pacientes com mieloma múltiplo (MM) recidivado após ≥1 terapia anterior, com base na análise interina primária do estudo de Fase III IKEMA (NCT03275285). Resultados atualizados de eficácia e segurança reportados por Moreau et al. confirmam que a adição de isatuximabe ao regime carfilzomibe-dexametasona melhorou a sobrevida livre de progressão (HR 0,58 (IC 95,4% 0,42–0,79) com mediana de 35,7 vs 19,2 meses em favor de Isa-Kd vs Kd nessa população de pacientes. Isatuximabe também prolongou o tempo até segunda progressão (SLP2) (HR 0,68 (IC 95% 0,50-0,94), com mediana de 47,2 vs 35,6 meses em favor de Isa-Kd vs Kd.
Neste estudo randomizado de Fase III, com participação de 69 centros em 16 países, foram incluídos pacientes adultos (≥18 anos) com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, com proteína M sérica ou urinária mensurável. Os pacientes foram randomizados (3:2) para isatuximabe mais carfilzomibe-dexametasona (grupo Isa-Kd) ou carfilzomibe-dexametasona (grupo Kd). Os pacientes do grupo Isa-Kd receberam isatuximab 10 mg/kg por via intravenosa semanalmente nas primeiras 4 semanas, depois a cada 2 semanas por ciclos de 28 dias em combinação com carfilzomibe duas vezes por semana na dose de 20/56mg/m2 e dexametasona na dose padrão para a duração do tratamento. O tratamento continuou até progressão ou toxicidade inaceitável. O endpoint primário foi a sobrevida livre de progressão avaliada na população com intenção de tratar. A análise de segurança considerou todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose do tratamento proposto.
Em um seguimento mediano de 44 meses, a taxa de reposta completa foi de 44,1% nos pacientes tratados com Isa-Kd vs 28,5% em Kd. Os pacientes que receberam isatuximabe tiveram mais que o dobro de negatividade na análise de doença residual molecular (30% vs 13%).
Na atualização de Moreau et al. os perfis de segurança em ambos os braços permaneceram consistentes com dados já reportados. Eventos adversos (EAs) graves foram relatados em 70,1% dos pacientes no grupo Isa-Kd vs 59,8% no grupo Kd. Entre os pacientes tratados com Isa-Kd, os EAs de qualquer grau mais comuns foram reação à infusão (45,8%), diarreia (39,5%), hipertensão (37,9%) e infecção do trato respiratório superior (37,3%).
O mieloma múltiplo é o segundo tipo mais comum entre as neoplasias hematológicas, com mais de 130 mil novos diagnósticos anuais em todo o mundo, segundo a Fundação Internacional de Mieloma.
O estudo IKEMA está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03275285.
Referências:
1 - DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Publicado em: 11/07/2022 | Edição: 129 | Seção: 1 | Página: 80
2 - Moreau, P., Dimopoulos, M.-A., Mikhael, J., Yong, K., Capra, M., Facon, T., … Kim, K. (2021). Isatuximab, carfilzomib, and dexamethasone in relapsed multiple myeloma (IKEMA): a multicentre, open-label, randomised phase 3 trial. The Lancet, 397(10292), 2361–2371. doi:10.1016/s0140-6736(21)00592-4