Em 2020, a ASCO publicou um guideline específico sobre inibidores de PARP (iPARP) no manejo do câncer de ovário. Agora, em resposta ao surgimento de novos dados com impacto na prática médica, a ASCO atualizou as recomendações, em diretriz publicada 23 de setembro no Journal of Clinical Oncology (JCO). Nesta atualização, rucaparibe, olaparibe e niraparibe não têm indicação no câncer de ovário epitelial recidivado em pacientes politratadas.
Estudo internacional, randomizado, de fase 3 (ATHENA-MONO2) avaliou a monoterapia com rucaparibe em comparação com placebo em pacientes com câncer de ovário epitelial (COE) estágio III-IV em resposta completa ou parcial à quimioterapia de primeira linha baseada em platina. Os resultados foram divulgados em junho de 2022 e indicaram benefício significativo de sobrevida livre de progressão (SLP), justificando a atualização do guideline de 2020 para terapia de manutenção de primeira linha. Além disso, dados de sobrevida global (SG) dos estudos ARIEL4 (rucaparibe), SOLO3 (olaparibe) e ENGOT-OV16/NOVA (niraparibe), com respectivos dados de segurança, são também objeto desta atualização, com recomendações para o tratamento do câncer de ovário epitelial recorrente, em pacientes sensíveis à platina (e com status positivo para mutação BRCA ou deficiência de recombinação homóloga (HRD), e como manutenção de segunda linha em pacientes não selecionados.
O painel de especialistas revisou novamente as evidências do estudo ATHENA-MONO2 e os resultados dos ensaios ARIEL4, SOLO3, ENGOT-OV16/NOVA. A partir dessas evidências, o guideline da ASCO propõe a manutenção com rucaparibe em pacientes com câncer de ovário avançado recém-diagnosticado, associada a SLP significativamente mais longa. A mediana de SLP foi de 28,7 meses (IC de 95%, 23,0 a não alcançada) com rucaparibe versus 11,3 meses (IC de 95%, 9,1 a 22,1) com placebo na população com mutação BRCA e deficiência de recombinação homóloga (HRD) determinada por FoundationOne CDx (log rank P = 0,0004; HR, 0,47; IC 95%, 0,31 a 0,72). Na população com intenção de tratar, a mediana de SLP foi de 20,2 meses (IC 95%, 15,2 a 24,7) versus 9,2 meses (IC 95%, 8,3 a 12,2); (log-rank P < 0,0001; HR, 0,52; IC 95%, 0,40 a 0,68); e 12,1 meses (IC 95%, 11,1 a 17,7) versus 9,1 meses (IC 95%, 4,0 a 12,2) na população HRD-negativa (HR, 0,65; IC 95%, 0,45 a 0,95).
Os dados atualizados do ensaio clínico randomizado de fase 3 ARIEL4 não mostraram benefício de sobrevida global com rucaparibe versus quimioterapia em pacientes com COE de alto grau recidivado, BRCA mutados, que receberam duas ou mais linhas prévias de quimioterapia. Na população com intenção de tratar, a mediana de SG foi de 19,4 meses no grupo rucaparibe em comparação com 25,4 meses no grupo de quimioterapia, resultando em HR de 1,31 (IC 95%, 1,00 a 1,73), P = 0,0507. Diante desses resultados, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) retirou a aprovação de rucaparibe como tratamento para essa população de pacientes, em decisão anunciada 10 de junho de 2022.
SOLO3 é um estudo de fase 3 comparando olaparibe versus quimioterapia sem platina em pacientes com câncer de ovário recidivado sensível à platina com mutação BRCA que receberam pelo menos duas linhas anteriores de quimioterapia à base de platina. O painel de especialistas lembra que a análise final (corte de dados: 16 de abril de 2021) não mostrou diferença significativa na SG, endpoint secundário do estudo. A mediana de SG foi de 34,9 meses no braço de olaparibe e de 32,9 meses no braço de quimioterapia (HR, 1,07; P = 0,71).
“Uma análise de subgrupo de pacientes tratados com três ou mais linhas prévias de quimioterapia encontrou um potencial prejuízo na sobrevida, com mediana de SG de 29,9 meses no braço de olaparibe em comparação com 39,4 meses no braço de quimioterapia (HR, 1,33; IC 95%, 0,84 a 2.18)”, descreve a diretriz de conduta. Diante desses achados, a AstraZeneca retirou eletivamente em 26 de agosto de 2022 a indicação de olaparibe como monoterapia no tratamento de pacientes adultos com câncer de ovário avançado com mutação BRCA suspeita ou confirmada que receberam três ou mais linhas prévias de quimioterapia.
A atualização da ASCO também descreve que a retirada de rucaparibe e olaparibe no cenário do CEO, como opções de tratamento da doença tardia, levou à retirada voluntária de niraparibe. O guideline contextualiza que as alterações no rótulo do FDA entraram em vigor em 14 de setembro de 2022.
Referência: Tew WP, Lacchetti C, Kohn EC; PARP Inhibitors in the Management of Ovarian Cancer Guideline Expert Panel. Poly(ADP-Ribose) Polymerase Inhibitors in the Management of Ovarian Cancer: ASCO Guideline Rapid Recommendation Update. J Clin Oncol. 2022 Sep 23:JCO2201934. doi: 10.1200/JCO.22.01934. Epub ahead of print. PMID: 36150092.