Onconews - ASTRO 2024:Pacientes relatam qualidade de vida com PBT e IMRT no câncer de próstata

Pacientes com câncer de próstata localizado têm várias opções de tratamento, incluindo radioterapia de feixe externo com fótons ou prótons. A terapia de feixe de prótons (PBT) tem certas vantagens dosimétricas, com o potencial de reduzir a morbidade associada ao tratamento e melhorar os resultados oncológicos, mas geralmente é mais intensiva em recursos do que a radioterapia de intensidade modulada (IMRT). Gustavo Nader Marta (foto), especialista em radioterapia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, comenta o estudo que foi selecionado como primeiro Late Breaking Abstract (LBA 1) no ASTRO 2024. O trabalho abordou a hipótese de que a PBT resulta em melhores resultados relatados pelo paciente (PROs), com achados que não demonstraram diferenças mensuráveis ​​entre PBT e IMRT.

Neste estudo clínico randomizado de fase 3, com participação multicêntrica (PARTIQoL; NCT01617161), o objetivo foi comparar PBT e IMRT no tratamento do câncer de próstata.

Pacientes com câncer de próstata de risco intermediário ou baixo foram randomizados para PBT ou IMRT, sem terapia hormonal, estratificados por instituição, idade, uso de espaçador retal e fracionamento (79,2 Gy/44 frações vs 70 Gy/28 frações). Os participantes foram acompanhados para avaliar os PROs da função intestinal, urinária e sexual por 60 meses após a conclusão da radioterapia. O desfecho primário foi a mudança na qualidade de vida intestinal (QOL) em relação à linha de base, usando a pontuação do software de assistência médica (intervalo de 0 a 100) em 24 meses. Os objetivos secundários incluíram mudanças nas funções urinária e sexual, toxicidade e desfechos de eficácia.

Resultados

Entre 06/2012-11/2021, 450 pacientes de 30 centros de recrutamento foram randomizados: PBT (N = 226) e IMRT (N = 224), dos quais 221 e 216 foram elegíveis e iniciaram o tratamento de radioterapia. O acompanhamento mediano foi de 60,3 meses entre 424 pacientes ainda vivos. A análise descreve que os participantes tinham idade média de 68 anos (variação de 46 a 89), 59% tinham doença de risco intermediário, 51% receberam hipofracionamento, 48% usaram espaçador retal e 49% dos pacientes de PBT foram tratados com pencil beam scanning.

Os resultados foram relatados no International Journal of Radiation Oncology e mostram que não houve diferença entre PBT ou IMRT na mudança média da pontuação intestinal em 24 meses (p = 0,836), com ambos os braços mostrando apenas um pequeno declínio sem significância clínica em relação à linha de base (veja tabela abaixo). Da mesma forma, não houve diferença na função intestinal em diferentes intervalos de tempo (3, 6, 9, 12, 18 meses) ou em análises posteriores (36, 48, 60 meses). Nenhuma diferença foi observada em outros domínios (urinário, sexual, hormonal) em nenhum ponto de tempo. Não houve diferença na sobrevida livre de progressão (SLP) (93,4% vs 93,7% em 60 meses, HR 1,16 [0,53, 2,57], p=0,706). Os autores destacam que não houve diferença sustentada em nenhum domínio de QV ou SLP entre os braços em subgrupos definidos por variáveis ​​de estratificação.

“Este ensaio clínico prospectivo randomizado mostra que pacientes tratados com radioterapia contemporânea para câncer de próstata localizado alcançam excelente QV com controle tumoral altamente eficaz, sem diferenças mensuráveis ​​entre PBT e IMRT”, concluem os autores. Os participantes do estudo continuarão a ser acompanhados para os desfechos secundários.

Health care software bowel score Mean (Std Dev)

PBT (N=221)

IMRT (N=216)

p-value

Baseline

93.7 (7.8)

93.5 (7.9)

 

24 mo

91.8 (11.1)

91.9 (8.6)

 

Change

-2.4 (9.7)

-2.2 (9.1)

0.836

 

O estudo em contexto
Por Gustavo Nader Marta, especialista em radioterapia do Hospital Sírio-Libanês

Este estudo, apresentado no ASTRO 2024, não demonstrou benefício clínico mensurável no uso de prótons (PBT) em comparação à radioterapia de intensidade modulada (IMRT) em pacientes com câncer de próstata localizado. Ambos os tratamentos apresentaram resultados equivalentes em termos de qualidade de vida e controle tumoral. Isso reforça a importância de decidir a adoção de novas tecnologias em ensaios clínicos de fase 3, principalmente ao considerar os custos mais elevados do tratamento com PBT. 

Referência:

Prostate Advanced Radiation Technologies Investigating Quality of Life (PARTIQoL): Phase III Randomized Clinical Trial of Proton Therapy vs. IMRT for Localized Prostate Cancer. Efstathiou, J.A. et al. International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics, Volume 120, Issue 2, S1