No Brasil, 12% dos cânceres de mama na pós-menopausa e 19% dos cânceres de cólon são atribuíveis à falta de atividade física. Os dados são de um estudo brasileiro publicado no periódico Cancer Epidemiology. Leandro Fórnias Machado de Rezende (foto), pesquisador do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e primeiro autor do trabalho, comenta os resultados.
Os pesquisadores estimaram a proporção dos tumores de cólon e de mama que poderiam ser potencialmente prevenidos no Brasil, aumentando a atividade física em toda a população por meio de diferentes cenários.
Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013, bem como riscos relativos correspondentes aos tumores de mama na pós-menopausa e câncer de cólon a partir de uma meta-análise. A incidência estimada de câncer considerou dados do GLOBOCAN e do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Foram considerados cinco cenários contrafactuais para atividade física: (i) nível mínimo teórico de exposição ao risco mínimo (≥8.000 equivalente metabólicos -minuto/semana - MET-min/semana); (ii) recomendação de atividade física (≥600 MET-min / semana); (iii) redução de 10% na prevalência de inatividade física (<600 MET-min/semana); (iv) nível de atividade física em cada estado igual ao estado mais ativo no Brasil; (v) diminuição das diferenças de gênero na atividade física.
Resultados
Os resultados do trabalho sugerem que cerca de 19% (3.630 casos) de tumores de cólon e 12% (6.712 casos) de casos de câncer de mama pós-menopausa poderiam ser evitados aumentando a atividade física para ≥ 8.000 MET-min/semana. “Esse cenário corresponde à aproximadamente 5h/dia de atividade física e foi utilizado para representar o máximo de casos de câncer que poderiam ser evitados por meio da atividade física”, disse Leandro Rezende.
Rezende observa que o trabalho também estimou a prevenção dos casos de câncer em outros cenários plausíveis por meio do aumento da atividade física. “Atingir a recomendação de atividade física da Organização Mundial da Saúde de 150 min/sem de atividade física (≥600 MET-min / semana) poderia prevenir até 1,7% (1.113 casos) da incidência de câncer de mama e 6% (1.137 casos) de câncer de cólon no Brasil; a redução de 10% na prevalência de inatividade física poderia prevenir 0,2% (111 casos) casos de câncer de mama e 0,6% (114) casos de câncer de cólon”, explica.
Com o aumento no nível de atividade física na população conforme os estados mais ativos segundo a PNS (Amapá para os homens e Minas Gerais para as mulheres) seria possível prevenir 0,3% (168 casos) da incidência do câncer de mama e 1% (189 casos) do incidência do câncer de cólon. “Por fim, estimamos que a redução das diferenças de gênero na atividade física por meio do aumento da prática de atividade física nas mulheres aos níveis observados nos homens poderia prevenir 1,1% (384 casos) na incidência do câncer de mama e 0,6% (122 casos) na incidência do câncer de cólon no país”, acrescenta Rezende.
Em conclusão, os resultados demonstram que altos níveis de atividade física são necessários para atingir um impacto considerável na prevenção do câncer de mama e cólon no Brasil. “1,3% dos tumores de mama pós-menopausa e 6% dos casos de câncer de cólon poderiam ser evitados através da realização da recomendação de atividade física. Outros cenários mais plausíveis mostraram impacto moderado da atividade física na prevenção do câncer”, concluem os autores.
A pesquisa foi realizada no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, Universidade de Cambridge e Universidade de Queensland.
Referência: Preventable fractions of colon and breast cancers by increasing physical activity in Brazil: perspectives from plausible counterfactual scenarios - Leandro Fórnias Machado de Rezende, Leandro Martin Totaro Garcia, Grégore Iven Mielke, Dong Hoon Lee, Kana Wu, Edward Giovannucci, José Eluf-Neto - Available online 19 July 2018. - https://doi.org/10.1016/j.canep.2018.07.006