Marcos Renni (foto), pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (INCA), é primeiro autor de estudo publicado no periódico Acta Scientific Women's Health que avalia como a prática de atividades físicos pode beneficiar pacientes em tratamento do câncer de mama. “Acreditamos na promoção da saúde através do exercício físico, uma ferramenta não farmacológica de reconhecida comprovação científica. Estamos em sintonia com a Organização Mundial da Saúde, que também defende essa prática”, afirma Renni.
Um dos principais benefícios avaliados é relativo ao controle de outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares, que algumas pacientes podem desenvolver durante o tratamento oncológico. Exemplo disso é a insuficiência cardíaca, uma condição que pode ocorrer devido a algum problema de saúde prévio ou surgir no decorrer do tratamento. “Além disso, é preciso avaliar outros problemas de saúde como sarcopenia e osteoporose, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, problemas cognitivos e fadiga”, afirma Renni.
Os autores realizaram uma ampla revisão do crescente corpo de evidências que apoia a aplicação da prática de atividades físicas como um tratamento adjuvante seguro e eficaz, que pode proporcionar melhora nos sintomas depressivos, redução da ansiedade e bem-estar geral, especialmente em pacientes com câncer de mama. “No entanto, podemos fazer algumas considerações sobre os dados descritos e adaptá-los a outros pacientes com câncer, respeitando suas limitações, sequelas e quadro clínico, além de considerar as preferências individuais”, observam.
A publicação é a primeira etapa de uma pesquisa maior, que está em andamento. Nessa etapa, os pesquisadores apresentam sugestões de exercícios físicos correlacionando-os ao estado clínico do paciente durante seu tratamento oncológico, com base na escala ECOG. Para melhorar a avaliação e percepção do esforço, foi utilizada também a escala OMNI-RES.
Pacientes com ECOG 4 geralmente ficam restritos ao leito, em sua maioria com atrofia muscular e rigidez nas articulações. Devido à falta de autonomia e à caquexia o exercício passivo é indicado visando a melhora das atividades musculares elásticas, mobilização do sistema osteoarticular e tecidos conjuntivos.
Pacientes com ECOG 3 com necessidades especiais ou hospitalizados que possam apresentar atrofia muscular, rigidez nas articulações e pouca autonomia serão beneficiados com o alongamento ativo visando a melhora das atividades elásticas musculares e do sistema osteoarticular. Já pacientes ECOG 2 geralmente possuem algum grau de atrofia muscular e leve rigidez nas articulações, e apresentam autonomia para o autocuidado e exercícios ativos de mobilidade que contribuem para melhorar as atividades musculares elásticas, bem como a mobilização do sistema osteoarticular e tecidos conjuntivos, promovendo bem-estar.
“No ECOG 1 os pacientes encontram-se autônomos e aptos para trabalhos leves e exercícios de treinamento de força de intensidade leve a moderada, respeitando as limitações individuais. Nesses pacientes, o objetivo é a manutenção, ganho de força e maior agilidade osteoarticular. Já em indivíduos ECOG 0 sugerimos atividades mistas de resistência e força de moderada a severa respeitando as limitações, condicionamento físico e preferências individuais.
Confira na tabela abaixo algumas sugestões que podem ser aplicadas de acordo com o ECOG do paciente.
Type of exercise | Exercise | Description | Intensity | ECOG |
Passive Streching | Hip flexion lying limbs flexed | DD*, the patient with the help of a professional flex both legs towards the thorax, applying light pressure | Very Light | 4 |
Passive Streching | Unilateral lying hip flexion extended limb | DD, the patient with the help of a professional raises one of the legs extended towards the thorax to the point that the patient does not lose contact of the hip with the surface | Very Light | 4 |
Passive Streching | Flexion and External Rota- tion of the Arm | DD, the patient with the help of the professional will perform a flexion accompanied by external rotation of the arm stretching pectoral stimulate the ROM** of the glenohumeral joint. | Very Light | 4 |
Passive Streching | Flexion, Extension and Rotation of the Trunk | DD, the patient with the help of a professional will perform the movements of extension, flexion, and rotation of the trunk to stimulate the stretching of the musculature of the chain. | Very Light | 4 |
Type of exercise | Exercise | Description | Intensity | ECOG |
Active Stretching | Pelvic Elevation Isometrics | DD, with arms parallel to the trunk, the patient raises the hips relaxing the entire region of the abdomen | Light | 3 |
Active Stretching | Lying hip flexion | DD, the patient flexes both legs toward the chest and hugs them | Light | 3 |
Active Stretching | Flexion with External Arm Rotation | supine position, the patient will perform a flexion accompanied by external rotation of the arm to stretch the pectoral, stimulating rom at glenohumeral joint | Light | 3 |
Active Stretching | Flexion, Extension and Rotation of the Trunk | DD, the patient with the help of a professional will perform the movements of extension, flexion, and rotation of the trunk to stimulate the stretching of the posterior (flexion) and anterior (extension) chain musculature, and the thoracic ROM (rotation). | Light | 3 |
Type of exercise | Exercise | Description | Intensity | ECOG |
Mobility | Standing ankle mobility | Standing with one foot in front and arms extended against the wall, the patient projects the knee towards the wall without removing the heel from the floor | Light | 2 |
Mobility | Thoracic flexion and extension in four supports | Leaning on the ground with four supports, the patient will perform the extension movement followed by the flexion movement of the trunk to stimulate the rom of the vertebrae. | Light | 2 |
Mobility | ‘Shoulders’ Mobility supported on the wall | Supported with his back against the wall, the patient will slide his arms, with the back of the hand and elbows against the wall, to stimulate the ROM of the glenohumeral joint, and to stretch the trunk muscles. | Light | 2 |
Mobility | Thoracic Mobility with Rotation | On a half kneeling basis and leaning against the wall on the side of the supported leg, the patient will extend the arms forward and rotate the trunk, maintaining contact with the wall, to stimulate the thoracic ROM and stretch the chest muscles. | Light | 2 |
Type of exercise | Exercise | Description | Intensity | ECOG |
Strength Training | Sitting on and getting up from the seat | With the feet parallel to each other, the patient sits on the bench, cadencing the speed until sitting on the bench and when standing up the patient applies force on the heel without removing the foot from the floor until standing upright | Moderate | 1 |
Strength Training | Standing plantar flexion | Standing next to a support, the patient stands on the “tip” of the foot and then returns to the starting position | Moderate | 1 |
Strength Training | Supported push-up | Standing close to a wall, the patient will perform the arm flexion with support on the wall. | Moderate | 1 |
Strength Training | Wall Plank | Standing away from the wall and with arms extended, the patient will lean on the wall where he or she supports the body for 15 seconds and returns to foot balance. | Moderate | 1 |
Type of exercise | Description | Intensity | ECOG | |
Strength Training | according to physical limitations | Moderate | 0 |
Próximos passos
A segunda etapa do estudo irá avaliar um total de 88 pacientes de câncer de mama tratadas no INCA através de um questionário que busca compreender a relação entre o nível de atividade física realizada pelo paciente e a sua condição de saúde ao longo do tratamento. Até o momento, 18 pacientes já foram avaliadas e a ideia é terminar o estudo até março de 2023.
A etapa prática da pesquisa prevê ainda a implementação de um centro especializado em atividades físicas para pacientes com câncer de mama, em parceria com outros projetos institucionais já em andamento. O objetivo do centro é orientar adequadamente as pacientes de acordo com o seu histórico de saúde e a sua condição física, nas atividades que seriam mais adequadas, caso a caso. A ideia é que o paciente possa realizar os exercícios não apenas no INCA, mas também em sua casa, incorporando as atividades na sua rotina.
“Acreditamos que a prática das atividades físicas pode ajudar muito as pacientes. Por isso, é preciso estimular a sua incorporação na rotina das pacientes. Outro produto que poderíamos oferecer seria um protocolo de orientação para as atividades físicas e reabilitação que seja mais adequado para pacientes com câncer. Nós queremos inovar e ser referência para o SUS e para outras unidades especializadas em tratamento do câncer. A ideia é que o estímulo e exemplo comece por aqui”, defende Marcos Renni.
Além de Marcos Renni, o estudo contou com a participação dos pesquisadores Marcos Vinicius Machado Rego, doutorando em Motricidade Humana na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Leonardo Freire de Andrade, especializando em Cinesiologia e Biomecânica na Faculdade de Empreendedorismo e Ciências Humanas do Brasil (FAECH), e Miriam Carvalho (Instituto Nacional do Câncer - INCA).
Referência: Marcos J P Renni., et al. “Cancer and Exercising - What Should be Considered?". Acta Scientific Women's Health 4.9 (2022): 30-35.