Estudo de Dutra et al., da USP de Ribeirão Preto, buscou validar biomarcadores agnósticos para prever a progressão do câncer de próstata. Os resultados estão na Frontiers in Oncology e revelam que o uso de biomarcadores agnósticos desenvolvidos para estratificação do câncer de mama permitiu uma classificação clínica precisa de pacientes submetidos à prostatectomia radical, destacando o potencial terapêutico de direcionar a sinalização do estrogênio no câncer de próstata.
Nesta análise, Dutra e colegas descrevem que os biomarcadores agnósticos tumorais são assinaturas moleculares ou biomarcadores usados para selecionar terapias, independentemente do local de origem do tumor. “O desenvolvimento de biomarcadores agnósticos de tecidos intertumorais revolucionou o tratamento do câncer”, destacam. Os autores também sublinham semelhanças na patobiologia do câncer de mama e próstasta, considerando que tumores iniciais partilham de características comuns, como dependência hormonal e mutações BRCA 1/2.
Os pesquisadores utilizaram o painel NanoString BC360, compreendendo o classificador PAM50 validado e assinaturas específicas associadas à progressão tumoral, assim como utilizaram classificadores específicos do câncer de mama. Uma coorte retrospectiva de cânceres primários de próstata (n = 53) foi estratificada de acordo com o status de recorrência bioquímica (BCR) e o CAPRA-S para identificar genes relacionados a doenças de alto risco. Duas coortes públicas (TCGA-PRAD e GSE54460) foram utilizadas para validar os resultados.
A análise revelou que o perfil de expressão dessa coorte mostrou associações entre PIP e INHBA com recorrência bioquímica e alto escore CAPRA-S, bem como associações entre VCAN, SFRP2 e THBS4 com BCR.” Apesar dos baixos níveis do gene ESR1 em comparação com AR, encontramos forte expressão da assinatura de sinalização do ER, sugerindo que a recorrência bioquímica pode ser conduzida por vias mediadas pelo ER”, descrevem os autores.
A análise de regressão de riscos proporcionais de Kaplan-Meier e Cox univariada indicou que a expressão de ESR1, PGR, VCAN e SFRP2 poderia prever a ocorrência de eventos de recaída. Dutra e colegas observam que esses achados estão de acordo com as vias representadas por estes genes, que contribuem para a angiogênese e a transição epitelial-mesenquimal.
“É provável que o VCAN atue ativando o estroma e remodelando o microambiente tumoral. Além disso, a superexpressão de SFRP2 tem sido associada ao aumento do tamanho do tumor e à redução das taxas de sobrevida no câncer de mama e entre pacientes com câncer de próstata que apresentaram recorrência bioquímica”, explicam. “O ESR1 influencia a progressão da doença ativando o estroma, estimulando o câncer de próstata progenitor/tronco e induzindo o TGF-β. A sinalização de estrogênio pode, portanto, servir como substituto para a sinalização de AR durante a progressão e na doença refratária a hormônios, particularmente em pacientes com câncer de próstata com tumores ricos em estroma”, prosseguem os autores.
Em síntese, o uso de biomarcadores agnósticos desenvolvidos para estratificação do câncer de mama facilitou uma classificação clínica precisa de pacientes submetidos à prostatectomia radical e destacou o potencial terapêutico de direcionar a sinalização do estrogênio no câncer de próstata.
O câncer de próstata é a segunda causa mais comum e a quarta causa mais frequente de mortes na população masculina. A maioria dos casos é diagnosticada com doença localizada, lentamente progressiva e indolente. No entanto, infelizmente 20-30% dos pacientes com doença localizada irão progredir e desenvolver metástases, com uma taxa de sobrevida reduzida em 5 anos.
Este estudo tem participação de William Lautert-Dutra, Camila M. Melo, Luiz P. Chaves, Francisco C. Souza, Cheryl Crozier, Adam E. Sundby, Elizabeth Woroszchuk, Fabiano P. Saggioro, Filipe S. Avante, Rodolfo B. dos Reis, Jeremy A. Squire e Jane Bayani.
Referência: Front. Oncol., 26 October 2023. Sec. Genitourinary Oncology. Volume 13 - 2023 | https://doi.org/10.3389/fonc.2023.1280943. William Lautert-Dutra (1), Camila M. Melo (1), Luiz P. Chaves (1), Francisco C. Souza (2), Cheryl Crozier (3), Adam E. Sundby (3), Elizabeth Woroszchuk (3), Fabiano P. Saggioro (4), Filipe S. Avante (2), Rodolfo B. dos Reis (2), Jeremy A. Squire (1,5) e Jane Bayani (3,6). 1 Department of Genetics, Medical School of Ribeirao Preto, University of Sao Paulo, Ribeirao Preto, Brazil; 2 Division of Urology, Department of Surgery and Anatomy, Medical School of Ribeirao Preto, University of Sao Paulo, Ribeirao Preto, Brazil; 3 Diagnostic Development, Ontario Institute for Cancer Research, Toronto, ON, Canada; 4 Department of Pathology, Ribeirao Preto Medical School, University of Sao Paulo, Ribeirao Preto, Brazil; 5 Department of Pathology and Molecular Medicine, Queen’s University, Kingston, ON, Canada; 6 Laboratory Medicine and Pathology, University of Toronto, Toronto, ON, Canada