Estudo de Harborg et al. publicado no Jama Network Open confirma evidências e demonstra que a obesidade está associada a maior risco de recorrência em pacientes com câncer de mama tratadas com inibidores de aromatase. “Nessa coorte dinamarquesa de 13.230 mulheres com câncer de mama RH+, pouco mais de 10% apresentaram recorrência ao longo de 6,2 anos de seguimento. Os resultados mostraram associação da obesidade com o aumento do risco de recidiva e pacientes com obesidade grave apresentaram risco aumentado de recorrência de 32%”, analisa o mastologista Ruffo de Freitas Jr. (foto), que comenta os principais achados.
Estudos clínicos confirmam que a obesidade é um fator de risco para recorrência em mulheres na pós-menopausa com câncer de mama com receptor hormonal positivo (RH+). As evidências sugerem que as mulheres com obesidade não obtêm proteção semelhante do tratamento com os inibidores da aromatase comparadas àquelas com peso saudável.
Neste estudo de coorte nacional, os pesquisadores usaram dados do Grupo Dinamarquês de Câncer de Mama e inscreveram mulheres na pós-menopausa com diagnóstico de câncer de mama em estágio I a III HR+, de 1998 a 2016. A análise dos dados foi realizada de novembro de 2022 a abril de 2023.
O IMC foi classificado como (1) peso saudável (18,5-24,9), (2) sobrepeso (25,0-29,9), (3) obesidade (30,0-34,9) e (4) obesidade grave (≥35,0), com base nas diretrizes da Organização Mundial de Saúde. O peso saudável foi considerado o grupo de referência nas análises estatísticas.
Os resultados mostram que 13.230 pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo foram incluídas, com idade mediana de 64,4 anos no momento do diagnóstico, 64,4 [58,6-70,2] anos). Houve 1.587 recorrências ao longo de 6,2 anos. Análises multivariadas revelaram riscos aumentados de recorrência associados à obesidade (taxa de risco ajustada, 1,18 [IC 95%, 1,01-1,37]) e obesidade grave (taxa de risco ajustada, 1,32 [IC 95%, 1,08-1,62]) versus pacientes com peso saudável. Pacientes com excesso de peso tiveram um risco maior, mas os resultados não foram estatisticamente significativos (taxa de risco ajustada, 1,10 [IC 95%, 0,97-1,24]).
“A obesidade foi associada a um risco aumentado de recorrência de câncer de mama entre pacientes na pós-menopausa com câncer de mama RH+ em estágio inicial tratadas com inibidores da aromatase. Os médicos devem estar cientes da importância da obesidade nos resultados do câncer de mama para garantir o benefício ideal do tratamento em todos os pacientes”, concluem os autores.
Ruffo de Freitas Júnior, Professor Associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, onde coordena o Programa de Mastologia, explica a conhecida associação entre câncer de mama RH+ e os esteroides sexuais. “A associação entre câncer de mama RH+ e os esteroides sexuais femininos é conhecida há muito tempo, sendo esse um dos principais aspectos no tratamento endócrino do câncer de mama”, diz. “A aromatase é uma enzima ligada ao citocromo P450, responsável pela aromatização do colesterol, promovendo a conversão da testosterona em estradiol e da androstenediona em estrona. Os inibidores de aromatase têm por finalidade inibir a ação da enzima aromatase, quebrando esse ciclo endócrino”, esclarece Freitas Jr., médico titular do Serviço de Ginecologia e Mama do Hospital Araújo Jorge da Associação de Combate ao Câncer.
Freitas Jr. também destaca que a taxa desses esteroides circulantes em pacientes sobreviventes de câncer de mama obesas vem sendo observada ao longo do tempo e faz com que haja a hipótese do aumento do risco de recorrência da doença previamente tratada.
Esses resultados da coorte dinamarquesa de 13.230 pacientes com câncer de mama RH+ favorecem o entendimento de estudos conduzidos previamente, mostrando associação de obesidade com aumento do risco de recidiva e mostrou que aquelas pacientes com obesidade grave apresentaram risco aumentado de recorrência de 32%.
Diante desse resultados, Freitas Jr. reforça o papel da comunicação médico-paciente. “Torna-se muito importante orientarmos nossas pacientes em tratamento do câncer de mama, para que possam ter uma vida saudável, incentivando-as e orientando-as a manter boa alimentação e exercícios físicos regulares, o que poderá reduzir a obesidade e, consequentemente, reduzir o risco individual de recorrência tumoral”.
Referência: Harborg S, Cronin-Fenton D, Jensen MR, Ahern TP, Ewertz M, Borgquist S. Obesity and Risk of Recurrence in Patients with Breast Cancer Treated with Aromatase Inhibitors. JAMA Netw Open. 2023;6(10):e2337780. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.37780