Qual método de biópsia tem mais acurácia para identificar doença clinicamente significativa em pacientes com câncer de próstata? Pesquisadores da Universidade de Pádua, na Itália, avaliaram diferentes esquemas de biópsia na vigilância ativa do câncer de próstata. "Este estudo ressalta que o propósito da biópsia perilesional na vigilância ativa ainda não está completamente claro e novos avanços são necessários para aprimorar a estratégia de detecção diagnóstica”, diz Luiza Aleixo (foto), do Hospital de Base de São José do Rio Preto”, que analisa os resultados.
Atualmente, a biópsia alvo (TB) e a biópsia aleatória (RB) são frequentemente adotadas em programas de vigilância ativa durante a biópsia de fusão ultrassonográfica (FB) transretal guiada por ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI).
Neste estudo, Novara et al. buscaram avaliar o aumento na acurácia diagnóstica através da biópsia perilesional (PL) e de diferentes esquemas de biópsia aleatória durante FB realizados em protocolos de vigilância ativa.
Foram coletados prospectivamente dados de 112 pacientes consecutivos com câncer de próstata de baixo ou muito baixo risco. Aqueles com mpMRI positiva foram submetidos à biópsia em uma única instituição acadêmica.
A biópsia foi realizada por fusão ultrassonográfica transretal guiada por ressonância magnética multiparamétrica (mpMRI/FB) com sistema Hitachi RVS com 3 TB e por biópsia aleatória transretal de 24 núcleos (RB). Os diferentes esquemas foram comparados; análises de regressão univariada e multivariada foram adotadas para identificar 1) preditores de qualquer câncer, 2) câncer com grau de Gleason (GGG) ≥2, além do grupo com 3) câncer grau de Gleason (GGG) ≥2 identificados por varreduras com maior número de núcleos.
Os resultados de Novara e colegas foram publicados na Prostata and Prostatic Disease e mostram que a taxa de detecção de câncer GGG ≥2 aumentou para 30%, 39% e 49% adicionando 4 núcleos à biópsia perilesional e 14 e 24 núcleos à adição da biópsia aleatória, respectivamente (todos os valores de p <0,01). No geral, a biópsia alvo, a biópsia aleatória de 14 núcleos e a biópsia aleatória de 24 núcleos identificaram 38%, 47% e 56% de todos os cânceres GGG ≥2. Esses números aumentaram para 62% com a adição de 4 núcleos PL ao TB, e para 80% com a adição de 14 núcleos RB. A maioria das diferenças foi observada nas lesões PI-RADS 4.
“Identificamos que a biópsia perilesional aumentou a taxa de detecção de cânceres GGG ≥2 em comparação com a biópsia alvo isoladamente. No entanto, a combinação desses núcleos perdeu uma grande parcela de casos de câncer sensíveis à castração (CS) identificados com núcleos RB maiores, incluindo 20% dos casos de câncer CS diagnosticados apenas pela combinação de TB mais RB de 24 núcleos”, concluem os autores.
“Os resultados revelam que a biópsia perilesional (PL) pode de fato aprimorar a taxa de detecção de cânceres com grau de Gleason (GGG) ≥2, quando comparada à biópsia alvo (TB) realizada isoladamente. No entanto, é notável que a inclusão de 14 núcleos de biópsia aleatória juntamente à biópsia alvo foi capaz de elevar a taxa de detecção em quase 20% em comparação à adição de apenas 4 núcleos de biópsia perilesional (PL)”, explica Luiza.
Para a especialista, esses achados destacam a complexidade do diagnóstico do câncer de próstata, particularmente em pacientes com baixo ou muito baixo risco, como aqueles abordados neste estudo. Enquanto a biópsia perilesional pode representar uma ferramenta valiosa, seus benefícios precisam ser mais bem avaliados em relação à possível perda de detecção de casos importantes”, acrescenta.
Em resumo, este estudo ressalta que o propósito da biópsia perilesional na vigilância ativa ainda não está completamente claro e novos avanços são necessários para aprimorar a estratégia de detecção diagnóstica.
Referência: Novara, G., Zattoni, F., Zecchini, G. et al. Role of targeted biopsy, perilesional biopsy, random biopsy, and their combination in the detection of clinically significant prostate cancer by mpMRI/transrectal ultrasonography fusion biopsy in confirmatory biopsy during active surveillance program. Prostate Cancer Prostatic Dis (2023). https://doi.org/10.1038/s41391-023-00733-8