negro pacienteHomens afro-americanos negros têm risco até quatro vezes maior de morrer de câncer de próstata em comparação com outros grupos raciais e étnicos. Agora, pesquisadores da City of Hope identificaram quatro biomarcadores relacionados ao metabolismo que explicam as alterações biológicas subjacentes a essa disparidade, abrindo caminho para desenvolver testes diagnósticos, preditivos e tratamentos personalizados.

"Identificamos alterações genéticas e moleculares que podem ser desenvolvidas em uma ferramenta para prever quais homens negros correm maior risco de desenvolver câncer de próstata metastático", disse Sara Shuck, do Departamento de Metabolismo de Diabetes e Câncer da City of Hope. Ela é líder do grupo de pesquisa que apresentou seus resultados no encontro anual da American Chemical Society (ACS) 2023.

O estudo partiu da visão de que fatores ambientais (expossoma) contribuem para essa disparidade e influenciam o risco de doenças por meio de interações gene-ambiente, nas quais os genótipos podem influenciar a resposta à exposição ambiental. Uma contribuição significativa para a mortalidade por câncer de próstata é a incidência de diabetes, que varia devido ao expossoma.

Os adultos negros nos EUA têm risco 60% maior do que os brancos de receber um diagnóstico de diabetes e são duas vezes mais propensos a morrer de diabetes, de acordo com os dados mais recentes do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.

Os mecanismos envolvidos no aumento da mortalidade por câncer de próstata em homens com diabetes não são claros, mas alterações fisiológicas causadas por alterações metabólicas associadas ao diabetes estão entre as hipóteses. Um mecanismo proposto para explicar como essas alterações aumentam a mortalidade por câncer de próstata é através da produção do eletrófilo reativo metilglioxal (MG).

Os autores explicam que MG é um subproduto do metabolismo de lipídios, proteínas e açúcares e forma adutos covalentes no DNA, RNA e proteínas. Esses adutos, denominados produtos finais de glicação avançada de MG (MG-AGEs) levam a mutações de DNA e a instabilidade genômica, alteram a estabilidade e a tradução do RNA e alteram a estabilidade e a função da proteína. Além disso, os MG-AGEs se ligam e ativam o receptor para AGEs (RAGE).

Para regular MG e MG-AGEs, as células usam glioxalase 1 (GLO1) para desintoxicar MG e RAGE solúvel (sRAGE) para sequestrar MG-AGEs e prevenir a ativação de RAGE. Esses componentes compõem o eixo AGE/RAGE.

Para definir a associação de MG-AGEs, GLO1, RAGE e sRAGE com disparidades de saúde no câncer de próstata, Schuck e colegas projetaram um estudo clínico envolvendo amostras de sangue de 371 homens com e sem câncer de próstata. “Medimos MG-AGEs séricos usando espectrometria de massa, sRAGE sérico usando ELISA e sequenciamos os loci GLO1 e AGER (gene que codifica RAGE) em DNA genômico isolado de sangue total. Descobrimos que SNPs MG-AGEs, sRAGE, GLO1 e AGER foram significativamente associados ao câncer de próstata em homens negros, mas não em brancos”, descreve a pesquisadora. “Também observamos uma diferença significativa entre esses componentes em homens negros e brancos sem câncer de próstata. Isso nos levou a supor que os SNPs MG-AGEs, sRAGE, GLO1 e AGER podem ter utilidade como biomarcadores para homens negros afrodescendentes com câncer de próstata, desempenhando papel na mutação e crescimento das células do câncer prostático’, explica.

Em síntese, além de analisar quatro biomarcadores associados à MG e os complexos que ela forma com DNA, RNA e proteínas, os pesquisadores também incluíram variação em um gene, GLO1, que codifica uma proteína que desintoxica esses complexos.

Surpreendentemente, os homens descendentes da África Ocidental tinham menos desses complexos promotores de malignidade no sangue. Ao contrário das expectativas, um nível mais baixo desses complexos foi associado a um risco maior de doença metastática. Os pesquisadores levantam a hipótese de que, em homens descendentes da África Ocidental, as células tumorais sequestram esses complexos e estimulam os processos metastáticos.

A City of Hope mantém o primeiro departamento de pesquisa focado na interseção entre câncer e diabetes.  

Referência: Detecting risk of metastatic prostate cancer in Black men - American Chemical Society