Estudo de fase 2 (SAKK 06/17) que investiga a adição de durvalumabe neoadjuvante à quimioterapia com gencitabina/cisplatina seguida de cirurgia radical e do uso adjuvante de durvalumabe mostra altas taxas de sobrevida livre de eventos e sobrevida global em 2 e 3 anos no tratamento do carcinoma urotelial músculo-invasivo, como descreve artigo de Cathomas et al., no Journal of Clinical Oncology. O oncologista Eduardo Zucca (foto), Diretor de Ensino e Pesquisa do Instituto do Câncer Brasil, comenta os resultados.
A integração da imunoterapia ao cenário perioperatório do carcinoma urotelial músculo-invasivo (MIUC) parece promissora. Neste estudo de fase II aberto, de braço único, iniciado pelo investigador, foram incluídos pacientes com MIUC estágio cT2-T4a cN0-1 operável. Os pacientes elegíveis receberam quatro ciclos de gencitabina/cisplatina (GC) neoadjuvante em combinação com quatro ciclos do inibidor de checkpoint imune durvalumabe (iniciar com GC ciclo 2), seguidos de cirurgia radical. Durvalumabe adjuvante foi administrado por 10 ciclos. O endpoint primário foi a sobrevida livre de eventos (SLE) em 2 anos.
Foram inscritos 61 pacientes, a partir de 12 centros. O conjunto completo de análise consistiu em 57 pacientes, 54 (95%) tinham câncer de bexiga. O seguimento médio foi de 40 meses. Os resultados de Cathomas et al. mostram que o estudo atingiu seu principal endpoint, com SLE 3em 2 anos de 76% (IC de 90% unilateral [limite inferior], 67%; CI de 95% bilateral, 62 a 85). A SLE em 3 anos foi de 73% (95% CI, 59 a 83). Resposta patológica completa em pacientes ressecados (N = 52) foi alcançada em 17 pacientes (33%) e 31 (60%) tiveram resposta patológica <ypT2 ypN0. A sobrevida global (SG) foi de 85% (95% CI, 72 a 92) em 2 anos e de 81% (95% CI, 67 a 89) em 3 anos.
Eventos adversos relacionados ao tratamento (TRAEs) de grau 3 e 4 ocorreram em 42% e 25%, respectivamente. TRAEs relacionados a durvalumabe adjuvante foram de grau 3 em 5 (11%) e grau 4 em 2 (4%) pacientes.
Em conclusão, esses dados indicam que é viável adicionar o inibidor de PD-L1 durvalumabe à quimioterapia neoadjuvante com cisplatina/gencitabina e continuar com durvalumabe adjuvante após a cirurgia radical em pacientes com carcinoma urotelial músculo-invasivo. Essa abordagem pode atingir altas taxas de sobrevida livre de eventos e sobrevida global em 2 e 3 anos e está sendo testada atualmente em um grande estudo randomizado de fase 3.
Os autores destacam que este estudo é único em explorar como principal endpoint o tempo até o evento no cenário perioperatório, em vez de uma resposta patológica completa.
“É um estudo muito interessante, que demonstra que é factível associar imunoterapia à quimioterapia, e que é bem tolerado. Vale observar que o estudo VESPER, que comparou M-VAC dose densa com cisplatina e gemcitabina, teve resultados bem semelhantes do braço M-VAC dose densa ao estudo SAKK, sem o uso de imunoterapia", afirma o oncologista Eduardo Zucca.
“Agora precisamos aguardar os resultados de estudos de Fase 3, um deles o NIAGARA, que compara quimioterapia com durvalumabe neoadjuvante + adjuvante versus apenas quimioterapia, para verificar se esse estudo vai demonstrar diferença nesses padrões avaliados, conclui.
Referência: Cathomas R, Rothschild SI, Hayoz S, Bubendorf L, Özdemir BC, Kiss B, Erdmann A, Aeppli S, Mach N, Strebel RT, Hadaschik B, Berthold D, John H, Zihler D, Schmid M, Alborelli I, Schneider M, Musilova J, Spahn M, Petrausch U. Perioperative Chemoimmunotherapy With Durvalumab for Muscle-Invasive Urothelial Carcinoma: Primary Analysis of the Single-Arm Phase II Trial SAKK 06/17. J Clin Oncol. 2023 Aug 17:JCO2300363. doi: 10.1200/JCO.23.00363. Epub ahead of print. PMID: 37590894.