A biópsia guiada por microultrassonografia de alta resolução é uma alternativa à biópsia guiada por fusão por ressonância magnética para diagnóstico do câncer de próstata clinicamente significativo, descrevem pesquisadores do ensaio OPTIMUM, em artigo no JAMA. Os resultados têm implicações importantes para médicos, pacientes e sistemas de saúde.
Neste estudo randomizado, multicêntrico, de não-inferioridade (NCT05220501), o objetivo foi comparar a biópsia guiada por microultrassonografia e a biópsia guiada por fusão por ressonância magnética. De dezembro de 2021 a setembro de 2024, foram inscritos homens com suspeita clínica de câncer de próstata (antígeno prostático específico [PSA] elevado e/ou achados anormais no exame retal digital) não submetidos a biópsia, a partir de 20 centros, em 8 países.
Os participantes foram randomizados para receber biópsia guiada por microultrassonografia (n = 121), biópsia guiada por fusão de microultrassonografia/RM (microultrassonografia/RM; n = 226, na qual as biópsias de microultrassonografia foram realizadas antes do desmascaramento da RM) ou biópsia guiada por fusão de RM/US convencional (RM/ultrassonografia convencional; n = 331). Todos os participantes receberam biópsia sistemática síncrona. O endpoint primário foi a diferença na detecção de cânceres de grau Gleason Grupo 2 ou superior usando microultrassonografia mais biópsia sistemática vs RM/ultrassonografia convencional mais biópsia sistemática. O endpoint secundário foi a diferença na detecção de cânceres de grau Gleason Grupo 2 ou superior encontrados usando microultrassonografia/RM mais biópsia sistemática vs RM/ultrassonografia convencional mais biópsia sistemática. A margem de não- inferioridade foi definida em 10%.
Os resultados relatados por Kinnaird et al. revelam que 802 homens foram submetidos à randomização e 678 foram submetidos à biópsia. A idade mediana dos participantes foi de 65 (59-70) anos e o nível de antígeno prostático específico foi de 6,9 (5,2-9,8) ng/mL; 83% se autodeclararam brancos. Câncer de grau Gleason Grupo 2 ou superior foi detectado em 57 participantes (47,1%) no grupo de microultrassonografia, em 141 (42,6%) no grupo de ressonância magnética/ultrassonografia convencional e em 106 (46,9%) no grupo de microultrassonografia/RM. A biópsia guiada por microultrassonografia não foi inferior à biópsia guiada por fusão por ressonância magnética (diferença, 3,52% [IC de 95%, −3,95% a 10,92%]; não inferioridade P < 0,001). A biópsia combinada com microultrassonografia/RM também não foi inferior à biópsia de fusão de RM/ultrassonografia convencional assistida por software de RM usando dispositivos de ultrassonografia convencionais (diferença, 4,29% [IC de 95%, −4,06% a 12,63%]; não inferioridade P < 0,001).
A taxa de câncer de grau 2 de Gleason ou superior diagnosticado apenas por biópsia direcionada foi de 38,0% no grupo de microultrassonografia, 34,1% no grupo de RM/ultrassonografia convencional e de 40,3% no grupo de microultrassonografia/RM; as diferenças não foram significativas.
“O uso da biópsia guiada por microultrassonografia não foi inferior à biópsia guiada por fusão de RM/ultrassonografia convencional para a detecção de câncer de próstata de grau 2 de Gleason ou superior em homens que nunca fizeram biópsia. A microultrassonografia pode fornecer uma alternativa à ressonância magnética para biópsia de próstata guiada por imagem”, concluem os autores.
Em síntese, neste ensaio clínico internacional, multicêntrico e randomizado, a biópsia guiada por microultrassonografia demonstrou ser não inferior à biópsia guiada por fusão por ressonância magnética/ultrassonografia convencional para a detecção do câncer de próstata clinicamente significativo em homens não submetidos à biópsia. Além disso, a biópsia guiada por fusão por microultrassonografia/ressonância combinada também não foi inferior à biópsia guiada por fusão por ressonância magnética/ultrassonografia convencional. Kinnaird e colegas destacam que os resultados do ensaio OPTIMUM são consistentes com trabalhos anteriores sobre microultrassonografia que também concluíram que a biópsia guiada por microultrassonografia foi não inferior ou equivalente à biópsia guiada por fusão por ressonância magnética.
“Esses achados têm implicações clínicas significativas. Para pacientes e médicos, a microultrassonografia é um novo método de imagem e biópsia com potencial de oferecer maior acessibilidade para pacientes que consideram biópsia de próstata, particularmente para aqueles com contraindicações à ressonância magnética. De uma perspectiva de recursos, a exigência de 2 procedimentos (RM pré-biópsia, geralmente com gadolínio, e biópsia) torna-se um único encontro usando microultrassonografia sem necessidade de contraste, reduzindo assim os tempos de espera, custo, morbidade relacionada ao contraste e ansiedade do paciente”, analisam.
Referência:
Kinnaird A, Luger F, Cash H, et al. Microultrasonography-Guided vs MRI-Guided Biopsy for Prostate Cancer Diagnosis: The OPTIMUM Randomized Clinical Trial. JAMA. Published online March 23, 2025. doi:10.1001/jama.2025.3579