O Cancer Care Ontario e a ASCO atualizaram as recomendações para o uso de bisfosfonatos como terapia adjuvante para pacientes na pós-menopausa com câncer de mama não metastático. Nesta orientação, pós-menopausa inclui pacientes com menopausa natural ou induzida por supressão ou ablação ovariana. A oncologista Ana Lucia Coradazzi (foto), médica do Centro Avançado de Terapias de Suporte e Medicina Integrativa (CATSMI) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta para o Onconews.
As diretrizes são baseadas em evidências, a partir de uma revisão sistemática da literatura. A maioria dos estudos avaliou o uso de ácido zoledrônico ou clodronato e os dados são extremamente limitados para outros bifosfonatos.
Recomendações
O painel de especialistas recomenda que o uso de ácido zoledrônico (4 mg por via intravenosa a cada 6 meses) ou clodronato (1.600 mg/dia por via oral) seja considerado como terapia adjuvante para pacientes pós-menopáusicas com câncer de mama candidatas à terapia sistêmica adjuvante.
Dados preliminares do estudo SWOG S030760,61 sugerem que o clodronato, o ibandronato e o ácido zoledrônico podem proporcionar benefícios similares quando se consideram desfechos de sobrevida global e sobrevida livre de progressão. No entanto, os especialistas lembram que embora os resultados do estudo TEAM IIb (BOOG 2006-04) possam apoiar o uso de ibandronato adjuvante, há uma grande diferença na dosagem de ibandronato no estudo em questão (50 mg / dia) e a utilizada no tratamento da osteoporose (150 mg/ mês por via oral ou 3 mg a cada 3 meses).
"A recomendação dos guidelines da ASCO quanto à incorporação de bisfosfonatos como parte do tratamento adjuvante do câncer de mama vem ao encontro de uma percepção já relativamente antiga dos oncologistas no que diz respeito à melhor evolução das pacientes menopausadas quando se utiliza um bisfosfonato em suas indicações habituais. Um exemplo é a melhora da densidade óssea quando é necessário o uso de inibidores de aromatase”, afirmou a oncologista Ana Lúcia Coradazzi. “Embora os dados referentes a ganho de sobrevida e redução do risco de recorrência ainda não estivessem claros, muitos profissionais percebiam que os benefícios dessa estratégia poderiam extrapolar os dados conhecidos até então”, observou.
Em relação ao uso de denosumabe adjuvante, o painel considerou que os achados disponíveis atualmente são insuficientes para fazer qualquer recomendação e que dados de longo prazo ainda são necessários.
A decisão final de administrar ou não bisfosfonatos deve ser feita durante a consulta entre o paciente e o oncologista, tendo em conta as características da doente e da doença, incluindo o risco de recorrência e potenciais benefícios e riscos. “Qualquer estratégia inovadora deve ter seus riscos e benefícios criteriosamente avaliados antes de ser incorporada como prática rotineira, especialmente em países com limitações financeiras (como o Brasil) e em populações com doenças graves, nas quais tratamentos adicionais frequentemente causam toxicidade desproporcional aos ganhos obtidos”, disse a oncologista.
Os fatores de risco para osteonecrose da mandíbula e insuficiência renal devem ser avaliados e quaisquer problemas de saúde dentária ou oral devem ser tratados antes da adição de bisfosfonatos.
Segundo Ana Lúcia, vale lembrar que no caso dos bisfosfonatos no tratamento adjuvante do câncer de mama, os benefícios mais evidentes se restringem a pacientes menopausadas e com neoplasias de alto risco, o que justificou a administração de quimioterapia sistêmica como parte do tratamento adjuvante na vasta maioria das pacientes avaliadas.
“Levando em consideração esses aspectos, a incorporação dos bisfosfonatos nas situações indicadas pode e deve ser incluído como parte da estratégia de tratamento adjuvante do câncer de mama, proporcionando mais alguns passos em direção à cura da doença”, conclui a especialista.
Informações adicionais em http://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JCO.2016.70.7257
Referência: Adjuvant Bisphosphonates and Other Bone-Modifying Agents in Breast Cancer - Published online March 6, 2017, DOI: 10.1200/JCO.2016.70.7257 - Sukhbinder Dhesy-Thind, Glenn G. Fletcher, Phillip S. Blanchette, Mark J. Clemons, Melissa S. Dillmon, Elizabeth S. Frank, Sonal Gandhi, Rasna Gupta, Mihaela Mates, Beverly Moy, Ted Vandenberg, and Catherine H. Van Poznak