Onconews - Breast Cancer Index no câncer de mama HR+ em mulheres na pré-menopausa

O Breast Cancer Index (BCI) pode prognosticar e prever o benefício da terapia endócrina adjuvante baseada na supressão da função ovariana em mulheres na pré-menopausa com câncer de mama positivo para receptor hormonal (HR+)? Estudo translacional que envolveu 1687 pacientes inscritas no SOFT (Suppression of Ovarian Function Trial) confirma o valor prognóstico do BCI em mulheres na pré-menopausa com câncer de mama HR+. Comenta o estudo Vanessa Monteiro Sanvido (foto), mastologista, professora adjunta e vice-chefe de Mastologia da Escola Paulista de Medicina. O trabalho mostra o papel do BCI na seleção de pacientes com doença inicial que mais se beneficiam de terapia endócrina intensiva.

A supressão da função ovariana (SFO) com terapia endócrina oral melhora os resultados para pacientes na pré-menopausa com câncer de mama positivo para receptor hormonal (HR+), mas adiciona efeitos adversos.  No estudo SOFT, as participantes foram randomizadas para receber 5 anos de tamoxifeno adjuvante sozinho, tamoxifeno mais SFO ou exemestano mais SFO. O teste de BCI foi realizado cegamente para dados clínicos e resultados. A hipótese a priori era que a razão BCI HOXB13/IL17BR (BCI[H/I])–tumores altos indicaria pacientes com maior benefício, da terapia endócrina de SFO, enquanto BCI alto indicaria pior prognóstico nessa população.

Neste estudo translacional prospectivo-retrospectivo, Ruth M. O’Regan e colegas buscaram um biomarcador genômico para selecionar pacientes com maior probabilidade de se beneficiar da terapia endócrina mais intensiva de SFO.A pesquisa considerou mulheres na pré-menopausa com câncer de mama precoce HR+ inscritas no estudo SOFT e com amostras de tecido tumoral disponíveis no repositório de tumores do International Breast Cancer Study Group para a extração de RNA. Os dados foram coletados de dezembro de 2003 a abril de 2021 e foram analisados ​​de maio de 2022 a outubro de 2022. Os desfechos primários foram o intervalo livre de câncer de mama para a análise preditiva e o intervalo livre de recorrência distante (ILRD) para as análises prognósticas.

Os resultados foram relatados no Jama Oncology e têm como base de análise 1687 pacientes (98,2%) que tiveram espécimes com RNA suficiente para o teste de BCI representando a população do estudo original. O tempo mediano (IQR) de acompanhamento foi de 12 anos e 512 pacientes (30,3%) tinham menos de 40 anos.

Os autores descrevem que tumores foram classificados como BCI (H/I)-baixo para 972 pacientes (57,6%) e BCI (H/I)-alto para 715 pacientes (42,4%). Pacientes com tumores classificados como BCI (H/I)- baixo tiveram benefício absoluto de 12 anos no intervalo livre de câncer de mama de 11,6% com exemestano mais SFO (razão de risco [HR], 0,48 [IC 95%, 0,33-0,71]) e um benefício absoluto de 7,3% no intervalo livre de câncer de mama com tamoxifeno mais SFO (HR, 0,69 [IC 95%, 0,48-0,97]) em relação ao tamoxifeno sozinho.

Pacientes com tumores BCI (H/I)-altos não se beneficiaram de exemestano mais SFO (benefício absoluto, −0,4%; HR, 1,03 [IC de 95%, 0,70-1,53]; P para interação = 0,006) ou tamoxifeno mais SFO (benefício absoluto, −1,2%; HR, 1,05 [IC de 95%, 0,72-1,54]; P para interação = 0,11) em comparação com tamoxifeno sozinho. O índice contínuo do BCI foi significativamente prognóstico no subgrupo N0 para o intervalo livre de recorrência distante (n = 1110; P = 0,004), com ILRD de 12 anos de 95,9%, 90,8% e 86,3% em cânceres N0 de baixo risco, risco intermediário e alto risco do BCI, respectivamente.

Em conclusão, entre 1687 participantes do estudo SOFT, aquelas com tumores com razão BCI HOXB13/IL17BR (BCI[H/I])–baixo tiveram maior benefício da terapia endócrina adjuvante baseada na supressão da função ovariana do que pacientes com tumores BCI(H/I)-alto. Um índice contínuo BCI mais alto foi confirmado como associado a pior prognóstico nesta população, indicando que o status BCI(H/I)-baixo pode identificar pacientes na pré-menopausa que provavelmente se beneficiarão de terapia endócrina mais intensiva. “Se validado em estudos adicionais, o BCI pode auxiliar na tomada de decisões sobre terapia endócrina adjuvante para pacientes na pré-menopausa com câncer de mama positivo para receptor hormonal”, destacam os autores.

O estudo em contexto
Por Vanessa Monteiro Sanvido, mastologista, professora adjunta e vice-chefe
de Mastologia da Escola Paulista de Medicina

Este estudo destaca a importância do Breast Cancer Index (BCI) como um biomarcador genômico para selecionar pacientes com maior probabilidade de se beneficiarem do tratamento com supressão da função ovariana (SFO) associada à terapia endócrina oral. Sabe-se que a SFO com terapia endócrina oral melhora os resultados para pacientes na pré-menopausa com câncer de mama receptor hormonal positivo (RH+), mas também traz efeitos adversos.

O objetivo principal do estudo foi avaliar o desempenho preditivo e prognóstico do BCI para identificar quais pacientes se beneficiariam mais da SFO.

O estudo utilizou amostras de tecido tumoral de pacientes do estudo SOFT, que foram randomizadas para receber tamoxifeno, tamoxifeno com SFO ou exemestano com SFO. Os resultados mostraram que as pacientes com tumores classificados como BCI(H/I)-baixo apresentaram um benefício significativo em termos de intervalo livre de câncer de mama (BCFI) quando tratadas com exemestano e SFO ou tamoxifeno e SFO, em comparação com tamoxifeno isolado. Por outro lado, aquelas com tumores BCI(H/I)-alto não mostraram benefício com a adição da SFO.

Assim, o BCI demonstrou ser um biomarcador importante, tanto prognóstico quanto preditivo, especialmente para identificar quais pacientes pré-menopáusicas com câncer de mama RH+ têm maior probabilidade de se beneficiarem de terapias endócrinas adjuvantes que incluem SFO.

Isso pode ajudar a personalizar o tratamento, evitando a exposição desnecessária a efeitos adversos em pacientes que provavelmente não obteriam benefícios adicionais dessa terapia mais intensiva. O status BCI(H/I) baixo pode identificar pacientes na pré-menopausa com maior probabilidade de se beneficiarem dessa terapia endócrina mais intensiva.

Referência:

JAMA Oncol. Published online August 15, 2024. doi:10.1001/jamaoncol.2024.3044