Um estudo randomizado realizado em 2009 comparou observação clínica com o uso de testes de CA-125 na vigilância do câncer de ovário e demonstrou que o CA-125 aumentou o uso da quimioterapia e diminuiu a qualidade de vida dos pacientes, sem melhorar a sobrevida. Agora, estudo publicado em julho no JAMA Oncology avaliou a rotina de 6 centros de câncer nos Estados Unidos e demonstrou que sete anos depois da divulgação do estudo de Rustin et al o uso de CA-125 continua presente na rotina clínica.
O estudo avaliou uma coorte prospectiva de 1241 mulheres com câncer de ovário em remissão clínica após cirurgia citorredutora primária e quimioterapia, com média de idade de 59 anos, 1112 brancas (89,6%). Os pacientes foram selecionados em 6 centros de câncer dos EUA entre 1º de janeiro de 2004 e 31 de dezembro de 2011, com seguimento até o final de dezembro de 2012. O end point primário foi estudar a utilização de CA-125 e de exames tomográficos na vigilância do câncer de ovário, antes e depois de 2009. Desfechos secundários incluíram o tempo de duplicação do CA-125 ao retratamento entre as mulheres que experimentaram um aumento no CA-125 antes e depois de 2009, além de avaliar os custos associados aos testes de vigilância.
Resultados
Entre as 1241 mulheres avaliadas, a utilização de testes de CA-125 e de exames de TC foi semelhante durante o período de estudo. Durante 12 meses de vigilância, a incidência cumulativa de pacientes submetidos a três ou mais testes de CA-125 foi de 86% em 2004-2009 versus 91% em 2010-2012 (P = 0,95), e a incidência cumulativa de pacientes submetidos a mais de 1 exame de tomografia computadorizada foi de 81% em 2004-2009 vs 78% em 2010-2012 (P = 0,50). Entre as mulheres que não apresentaram duplicação de CA-125 (n = 511), não houve diferença significativa no tempo para o tratamento com quimioterapia antes e após 2009 (mediana, 2,8 vs 3,5 meses; P = 0,40). Durante 12 meses houve uma média de 4,6 testes de CA-125 e de 1,7 tomografias realizadas por paciente.
A conclusão dos autores é de que apesar das evidências disponíveis, o uso de testes de CA-125 e de tomografia computadorizada ainda são rotineiramente utilizados para vigilância em pacientes com câncer de ovário, embora seu benefício não tenha sido comprovado e seu uso pode ter implicações negativas para a qualidade de vida dos pacientes, além de impactar os custos de assistência.
Em 2009, o estudo de Rustin et al randomizou 529 mulheres em remissão após quimioterapia inicial para câncer de ovário. Todas realizaram testes de CA-125 a cada 3 meses. Aquelas que tiveram os níveis de CA-125 duplicados foram randomizadas para receber tratamento precoce e tardio. Os resultados de CA-125 das pacientes designadas para o grupo de tratamento precoce foram notificados aos médicos, mas no grupo designado para tratamento posterior os resultados foram retidos e as decisões sobre o tratamento foram baseadas na recorrência clínica.
Os resultados mostram que a maioria das mulheres no grupo de tratamento precoce começou a quimioterapia logo após os resultados da elevação de CA-125. No entanto, aquelas no grupo de tratamento tardio começaram a receber tratamento quimioterápico cerca de 5 meses mais tarde. A sobrevida média não foi diferente entre os grupos avaliados: 25,7 meses no grupo de tratamento precoce versus 27,1 meses no grupo que recebeu tratamento posterior. Ao contrário, o tempo médio para a deterioração da pontuação global de saúde ou morte foi significativamente maior no grupo tardio do tratamento (5,8 vs 3,2 meses, P = 0,002). O grupo de tratamento tardio também sofreu menos ciclos de quimioterapia, foi menos propenso a receber terceira linha de quimioterapia e teve mais 5 meses de vida em remissão após o tratamento inicial.
Em síntese, o artigo de Esselen et al publicado em julho do JAMA Oncology levanta a pergunta: por que a prática clínica não muda diante de novas evidências?
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Referência: Use of CA-125 Tests and Computed Tomographic Scans for Surveillance in Ovarian Cancer - Katharine M. Esselen et al - JAMA Oncol. Published online July 21, 2016. doi:10.1001/jamaoncol.2016.1842