O estudo CALGB 49907 atualizou os resultados após acompanhamento de 11,4 anos e mostra que a quimioterapia adjuvante padrão aumentou a sobrevida livre de recorrência, especialmente em pacientes com doença negativa para receptores hormonais, mas não teve impacto na sobrevida global na comparação com capecitabina no câncer de mama inicial. O oncologista Evandro de Azambuja (foto), chefe da Equipe de Suporte Médico no Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, Bélgica, analisa os resultados.
Neste estudo, pacientes com câncer de mama inicial e idade ≥ 65 anos foram randomizadas para quimioterapia adjuvante padrão (escolha do médico entre ciclofosfamida, metotrexato e fluorouracil ou ciclofosfamida e doxorrubicina) ou capecitabina. O endpoint primário foi sobrevida livre de recorrência (RFS, da sigla em inglês). O estudo de não inferioridade foi encerrado prematuramente após a inclusão de 663 pacientes na primeira análise, que concluiu que capecitabina seria não inferior à quimioterapia padrão.
Resultados
Aos 10 anos, as taxas de RFS foram de 56% e 50% em pacientes tratadas com quimioterapia padrão versus capecitabina, respectivamente (hazard ratio [HR], 0,80; P = 0,03). As taxas de sobrevida específica para câncer de mama foram de 88% e 82%, respectivamente (HR, 0,62; P = 0,03) e as taxas de sobrevida global foram de 62% e 56%, respectivamente (HR, 0,84; P = 0,16).
Em um acompanhamento mais longo, a quimioterapia adjuvante padrão permaneceu superior à capecitabina entre os pacientes com receptores hormonais negativos (HR, 0,66; P = 0,02), mas não entre os pacientes com receptores hormonais positivos (HR, 0,89; P = 0,43). No geral, 43,9% dos pacientes morreram (13,1% de câncer de mama, 16,4% de outras causas e 14,1% de causas desconhecidas). Em 14,1% dos pacientes foi diagnosticado um segundo câncer primário.
Os resultados iniciais do CALGB mostraram que a quimioterapia padrão com CMF ou AC resultou em ganho de RFS na comparação com capecitabina em mulheres idosas com câncer de mama em estádio inicial. Agora, em um seguimento mais longo, a RFS permaneceu significativamente superior com quimioterapia adjuvante comparada à capecitabina. “Na sobrevida global, apesar da diferença não ser estatisticamente significativa, existe uma diferença numérica não siginificativa em favor da quimioterapia padrão (62% versus 56%). Não se deve esquecer que o estudo foi encerrado prematuramente e o poder estatístico para a análise de sobrevida global fica comprometido. Além disso, o risco de morte nessa população foi atribuído a outras causas que não o câncer”, observa Azambuja.
Em conclusão, após follow up prolongado, os resultados do estudo CALGB 49907 mostram que a quimioterapia adjuvante padrão versus capecitabina melhorou a sobrevida livre de recorrência (RFS), especialmente em pacientes com doença negativa para receptores hormonais, mas não teve impacto na sobrevida global. Os autores concluíram que os riscos nessa população mais velha diluem os benefícios de sobrevida global. “A inclusão de pacientes idosos em futuros estudos deve considerar uma extensa avaliação geriátrica para a melhor seleção da população do estudo”, acrescenta o oncologista brasileiro.
Referência: Muss, H. B., Polley, M.-Y. C., Berry, D. A., Liu, H., Cirrincione, C. T., Theodoulou, M., … Carey, L. (2019). Randomized Trial of Standard Adjuvant Chemotherapy Regimens Versus Capecitabine in Older Women With Early Breast Cancer: 10-Year Update of the CALGB 49907 Trial. Journal of Clinical Oncology, JCO.19.00647. doi:10.1200/jco.19.00647