Estudo realizado no A.C.Camargo Cancer Center buscou avaliar os resultados da abordagem de tratamento multimodal (cirurgia radical e quimioterapia perioperatória) em uma coorte de pacientes com câncer gástrico localmente avançado tratados com linfadenectomia D2. O objetivo foi identificar fatores prognósticos associados à melhora da sobrevida. Os resultados foram publicados no Annals of Surgical Oncology. “Além do fato de ser uma casuística brasileira, esta é uma das primeiras publicações a demonstrar a importância da resposta à quimioterapia peri-operatória como fator determinante de melhor sobrevida em pacientes com câncer gástrico avançado”, afirma o cirurgião oncológico Felipe Coimbra (foto), principal autor do estudo.
O estudo de coorte retrospectivo incluiu pacientes tratados com quimioterapia perioperatória e ressecção na instituição entre 2006 e 2016. Foram excluídos pacientes que apresentavam tumores do coto gástrico, tumores esofágicos ou tratados com quimioterapia intraperitoneal. A análise de sobrevida por intenção de tratamento foi realizada para todos os indivíduos que iniciaram a quimioterapia neoadjuvante, e os fatores prognósticos foram determinados entre aqueles que tiveram ressecção R0.
Resultados
Foram incluídos 239 pacientes, dos quais 198 tiveram ressecção R0. A mediana de idade foi de 59,9 anos, e a maioria dos pacientes apresentava doença estádio clínico IIB ou III (88%). Entre os 239 pacientes que iniciaram quimioterapia neoadjuvante, 207 (86,6%) completaram todos os ciclos de tratamento neoadjuvante, e a ressecção cirúrgica foi realizada em 225 indivíduos (94,1%).
As taxas globais de morbidade e mortalidade em 60 dias foram 35,6% e 4,4%, respectivamente. Para toda a coorte, a mediana de sobrevida foi de 78 meses e a taxa de sobrevida em 5 anos foi de 55,3%. Fatores associados com pior sobrevida foram estádio ypT3-4, estádio ypN+, ressecção estendida e ausência de quimioterapia adjuvante.
Em conclusão, a quimioterapia perioperatória apresentou resultados muito bons para pacientes tratados com cirurgia radical, indicando que o downstaging após a quimioterapia é um importante fator prognóstico de sobrevida.
“O estudo reforça o papel da neoadjuvância em pacientes com câncer gástrico ressecável estádios II e III, e ratifica que o downstaging, ou seja, a “diminuição” do estadiamento após a neoadjuvância em pacientes com cirurgia adequada é o que vai melhor determinar o prognóstico destes pacientes. Esperamos para o futuro evidências que nos ajudem a selecionar aqueles que terão melhor resposta, evitando assim tratamento neoadjuvante para aqueles pacientes que não respondem”, conclui Felipe.
Referência: Impact of ypT, ypN, and Adjuvant Therapy on Survival in Gastric Cancer Patients Treated with Perioperative Chemotherapy and Radical Surgery - Coimbra, F.J.F., de Jesus, V.H.F., Ribeiro, H.S.C. et al. Ann Surg Oncol (2019). https://doi.org/10.1245/s10434-019-07454-0