Mudanças climáticas, poluição e perda de biodiversidade são questões centrais do nosso tempo. Editorial de Lynch et al. no JCO Oncology Practice analisa o significado dessa tripla crise planetária para os pacientes de câncer e para os profissionais de saúde envolvidos na pesquisa e assistência. “Analogamente ao tratamento do câncer, quanto maior e mais diversa for a comunidade envolvida na integração da sustentabilidade, maiores serão seus benefícios”, argumentam os autores.
Lynch e colegas lembram que na era do Antropoceno, era na qual nossas atividades estão alterando substancialmente a superfície da Terra, a atmosfera, os oceanos e os sistemas de ciclagem de nutrientes.
Neste editorial, os autores destacam o alerta da Força-Tarefa de Mudanças Climáticas da ASCO, lembrando do impacto climático dos cuidados de saúde modernos. Por incrível que pareça, o setor de saúde é um grande poluidor, responsável por mais de 5% de todas as emissões globais e por 4,4% dos gases de efeito estufa, descrevem Lynch et al., contextualizando, ainda, que o setor responde por 2,8% das emissões de material particulado e 3,4% dos óxidos de nitrogênio. “Globalmente, 2% dos plásticos em valor são usados em cuidados de saúde, uma taxa que está aumentando em 6% ao ano. As pandemias atuais e futuras acelerarão essa tendência”, projeta a análise.
Lynch e colegas questionam como conciliar o dever de cuidado com os pacientes com o dever de cuidado com o planeta e, mais ainda, como seria essa reconciliação?
Entre as respostas a esses desafios, os autores ilustram exemplos propositivos, como o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido - o primeiro a se comprometer com emissões líquidas zero - , além da campanha Choose Wisely, que se concentrou na redução de testes e tratamentos desnecessários. Outra referência destacada no editorial vem da Escala de Magnitude de Benefício Clínico da ESMO, a European Society of Medical Oncology, uma estrutura desenvolvida para classificar o grau de benefício clinicamente significativo associado à terapêutica anticâncer.
A grande mensagem é a importância de estimular medidas de sustentabilidade em toda a cadeia, da pesquisa ao ambiente de assistência.
“ A verdade inconveniente é que, embora o que prescrevemos possa transformar vidas positivamente, a forma como prescrevemos está transformando negativamente o ambiente, agravando o sofrimento do paciente. Não somos observadores na equação da mudança climática. Somos partes integrais dela. Nossa estrela-guia como uma profissão de cuidado é melhorar o tratamento do câncer para nossos pacientes. Não alcançaremos essa estrela para eles a menos que integremos a conscientização climática em seus cuidados”, conclui o editorial.
Referência:
Lynch E, Bredin P, Weadick CS, Dorney N, Van Leeuwen RWF, O'Reilly S. Why We Should, and How We Can, Reduce the Climate Toxicity of Cancer Care. JCO Oncol Pract. 2024 Nov 1:OP2400680. doi: 10.1200/OP-24-00680. Epub ahead of print. PMID: 39486013.