O JCO Global Oncology traz artigo com participação do oncologista brasileiro Gustavo Werutsky (foto), que discute oportunidades apresentadas no workshop Acelerando o Desenvolvimento e Validação de Agentes Anticâncer, realizado em 2022, com destaque especial para os desafios do acesso na África e América Latina.
Nesta análise, os autores contextualizam a evolução do tratamento do câncer, lembrando que a rápida expansão do tratamento sistêmico, técnicas aprimoradas de rastreamento, diagnóstico, cirurgia e radioterapia concorreram para melhorar os resultados de sobrevida dos pacientes para muitos tipos de câncer. No entanto, esses ganhos de sobrevida global beneficiaram desproporcionalmente os pacientes em países de rendimento elevado, enquanto os doentes em países de rendimento baixo e médio continuam a enfrentar desafios no acesso a cuidados oportunos e concordantes com as diretrizes.
Em setembro de 2022, o workshop 'Acelerando o Desenvolvimento e Validação de Agentes Anticâncer' enfocou o desenvolvimento global de medicamentos contra o câncer. Os participantes do painel discutiram as principais barreiras, como a falta de serviços de diagnóstico e de recursos humanos, o acesso a medicamentos, a falta de infraestrutura de investigação e os desafios regulamentares, com ênfase nos desafios da África e América Latina.
“A América Latina terá impacto significativo no desenvolvimento global de medicamentos contra o câncer e na equidade “, sinalizam os autores, ilustrando o êxito de iniciativas como o Grupo Cooperativo Latino-Americano de Oncologia (LACOG), que hoje reúne mais de 400 membros em 200 hospitais, em 16 países. Outro exemplo vem do GAICO (Grupo Argentino de Pesquisa Clínica sobre o Câncer), que também desempenha papel essencial no desenvolvimento de ensaios clínicos em toda a América Latina.
Entre as oportunidades com potencial de melhorar o acesso, o workshop destacou a importância de priorizar investimentos em diagnósticos, investir em infraestruturas de saúde e no planejamento da força de trabalho, além de esforços coordenados para a aquisição de medicamentos, preços incentivados através de mudanças regulamentares, sem falar da importância de desenvolver e promover ensaios clínicos que possam responder a questões clínicas relevantes para pacientes em países de baixa e média renda.
“Como comunidade oncológica, devemos continuar a defender e a trabalhar no sentido do acesso equitativo a intervenções de alta qualidade para os pacientes, independentemente da sua localização geográfica”, sublinham os autores.
O câncer permanece como uma das maiores ameaças à saúde em todo o mundo. Em 2020, houve cerca de 19,3 milhões de novos diagnósticos de câncer e 10 milhões de mortes. Mais de 50% dos casos ocorreram em países de baixa e média renda.
Referência: DOI https://doi.org/10.1200/GO.23.00294