Dados inéditos sobre a predisposição genética ao câncer cervical foram publicados por Bowden et al. na edição de abril do Lancet Oncology. “Neste estudo, apresentamos os resultados da maior análise de associação genômica, considerando os fenótipos de câncer cervical em mais de 150. 314 mulheres de ascendência europeia e mais de 9 milhões de variantes genotipadas”, descrevem os autores. Este é o primeiro estudo a identificar com segurança variantes genéticas que podem estar associadas a um risco elevado de câncer cervical.
Ampliar a compreensão da patogênese da neoplasia cervical pode ter implicações para potenciais alvos terapêuticos em mulheres com câncer cervical ou lesões cervicais precursoras. A análise de Bowden et al. indicou que variantes em três genes foram associadas a um risco aumentado do câncer cervical e lesões precursoras. “Fomos capazes de replicar três SNPs em PAX8 (rs10175462), CLPTM1L (rs27069) e HLA-DQA1 (rs9272050) em um conjunto de dados finlandês independente de 4246 casos de displasia cervical, 298 casos de NIC3 e 1648 casos de câncer cervical (FinnGen)”, destaca a publicação.
Achados
Entre 13 de março de 2006 e 1º de outubro de 2010 foram incluídas 4769 amostras de NIC3 e de câncer cervical invasivo e 145 545 amostras de controle. Dos 9.600.464 polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) testados e imputados, seis variantes independentes foram associadas a NIC3 e câncer cervical invasivo. Dessas, três SNPs foram replicados em um conjunto de dados finlandês independente de 1.648 casos de câncer cervical invasivo: PAX8 (rs10175462; p = 0,015), CLPTM1L (rs27069; p = 2,14 × 10−7) e HLA-DQA1 (rs9272050; p = 7 · 90 × 10−8).
A randomização também apoiou o papel complementar do tabagismo (OR 2 · 46, IC 95% 1 · 64–3 · 69), idade avançada na primeira gravidez (0 · 80, 0 · 68–0 · 95) e número de parceiros (1 · 95, 1 · 44–2 · 63) no risco de desenvolver câncer cervical.
Sarah Bowden, pesquisadora do Imperial College e primeira autora do estudo, esclarece que a região HLA codifica as respostas do sistema imunológico, sugerindo que a variação nesses genes pode prejudicar a capacidade do organismo de reagir contra o HPV ou de eliminar as células cancerígenas. PAX8 e CLPTM1L são genes que ajudam a controlar as respostas do organismo às células precursoras e iniciais do câncer. “Nossos resultados fornecem novas evidências para a suscetibilidade genética ao câncer cervical, especificamente os genes PAX8, CLPTM1L e HLA, sugerindo interrupção nas vias apoptóticas e da função imunológica”, descrevem.
Esses achados abrem caminhos para identificar mulheres com maior risco genético de desenvolver câncer cervical. A próxima etapa da pesquisa espera quantificar o risco atribuível a essas variantes.
O câncer cervical é causado pela infecção provocada pelo papilomavírus humano (HPV) e afeta cerca de 570 mil mulheres em todo o mundo. “Aumentar o acesso global às vacinas contra o HPV deve ser uma grande prioridade de saúde pública para a prevenção de cânceres relacionados ao HPV”, sublinha o estudo.
Referência: Genetic variation in cervical preinvasive and invasive disease: a genome-wide association study - Sarah J Bowden, MBBCh; Barbara Bodinier, MSc; Ilkka Kalliala, PhD; Verena Zuber, PhD; Dragana Vuckovic, PhD; Triada Doulgeraki, MBBS et al. - Published: April, 2021 - DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00028-0