Um estudo de base populacional comparou a incidência do câncer entre os povos indígenas da Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos. Os resultados foram publicados no Lancet online de 14 de outubro. Em países desenvolvidos, os povos indígenas têm desproporcionalmente pior saúde e expectativa de vida menor do que os não-indígenas.
Dados sobre incidência do câncer em indígenas são escassos, o que motivou este estudo comparativo que, pela primeira vez, relatou a carga de câncer entre os povos indígenas nesses países.
Os pesquisadores compararam as taxas padronizadas dos casos de câncer (exceto pele não-melanoma) diagnosticados entre 2002 e 2006 ajustados por idade, sexo, sítio do câncer e etnia.
Métodos e resultados
Os dados de incidência foram obtidos a partir dos registros de câncer de base populacional dos Estados Unidos, Nova Zelândia, da província de Alberta, no Canadá, além de três estados da Austrália (Queensland, Austrália Ocidental e do Norte).
Foram incluídos 24.815 casos de câncer em populações indígenas e 5.685.264 casos em não-indígenas de todas as áreas avaliadas. A carga global de câncer em populações indígenas foi substancialmente mais baixa nos EUA, exceto no Alasca, semelhante ou ligeiramente mais baixa na Austrália e no Canadá, e superior na Nova Zelândia em comparação com os não-indígenas.
Os tipos de câncer mais frequentes em homens indígenas foram de pulmão, próstata e câncer colorretal. Entre as mulheres indígenas, o câncer de mama foi o mais presente, seguido do câncer de pulmão e colorretal. A incidência de câncer de pulmão foi maior em homens indígenas em todas as regiões da Austrália, em Alberta, no Canadá, e também entre os indígenas norte-americanos nativos no Alasca na comparação com os não-indígenas. Para o câncer de mama, as taxas em mulheres foram menores em todas as populações indígenas, exceto na Nova Zelândia (SRR 1 23, 95% CI 1 · 16-1 · 32) e Alasca (1 · 14, 1 · 01-1 · 30). A incidência de câncer cervical foi maior nas mulheres indígenas do que em mulheres não-indígenas na maioria das áreas avaliadas, embora a diferença nem sempre tenha sido estatisticamente significativa.
A conclusão é de que existem diferenças claras na escala e perfil de câncer em populações indígenas e não-indígenas na Austrália, Nova Zelândia, Canadá e EUA. Os autores destacam ainda a necessidade de implantar e aprimorar programas de rastreio, vacinação e cessação do tabagismo, entre outras estratégias de prevenção nessa população-alvo.
Referência: Cancer incidence in indigenous people in Australia, New Zealand, Canada, and the USA: a comparative population-based study - Suzanne P Moore, Sébastien Antoni, Amy Colquhoun, Bonnie Healy, Lis Ellison-Loschmann, John D Potter, Gail Garveye Freddie Bray.