Cemiplimabe mostrou benefício de sobrevida significativo para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado com expressão tumoral PD-L1 de pelo menos 50% e sem biomarcadores acionáveis em 1 ano de acompanhamento. Análise exploratória publicada em agosto no Lancet Oncology apresenta os resultados após 35 meses de acompanhamento e o efeito da adição de quimioterapia ao tratamento com cemiplimabe no momento da progressão da doença, com dados que confirmam o benefício de cemiplimabe como monoterapia de primeira linha e sugerem um possível novo tratamento de segunda linha para pacientes com CPCNP avançado. “Os dados deste estudo suportam cemiplimabe como mais uma opção terapêutica em monoterapia para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas com expressão de PD-L1 > 50%”, afirma Guilherme Harada (foto), coordenador da área de Pesquisa Clínica em Oncologia do Hospital Sírio-Libanês (SP).
Neste estudo de fase 3 multicêntrico, aberto, randomizado (EMPOWER-Lung 1) foram inscritos pacientes (com idade ≥18 anos) com câncer de pulmão de células não pequenas escamoso ou não escamoso avançado histologicamente confirmado com expressão tumoral PD-L1 de 50% ou mais.
Os pacientes foram randomizados (1:1) para tratamento com cemiplimabe 350 mg por via intravenosa a cada 3 semanas por até 108 semanas, ou até progressão da doença, ou quimioterapia de escolha do investigador. A randomização foi estratificada por histologia e região geográfica. Os endpoints primários foram a sobrevida global (SG) e a sobrevida livre de progressão (SLP) por revisão central independente cega (BICR) de acordo com os Critérios de Avaliação de Resposta em Tumores Sólidos versão 1.1. Os pacientes com progressão da doença durante o tratamento com cemiplimabe poderiam continuar o uso de cemiplimabe, desta vez com a adição de até quatro ciclos de quimioterapia. Os pesquisadores avaliaram a resposta nesses pacientes por BICR considerando como novo baseline o último exame de imagem antes do início da quimioterapia. Os endpoints primários foram avaliados em todos os participantes por intenção de tratamento e naqueles com expressão de PD-L1 de pelo menos 50%.
Eventos adversos foram avaliados em todos os pacientes que receberam pelo menos uma dose do tratamento designado.
Os resultados mostram que entre 29 de maio de 2017 e 4 de março de 2020, foram inscritos 712 pacientes, majoritariamente homens (85%). Na randomização, 357 (50%) foram para o grupo de cemiplimabe e 355 (50%) para o grupo de quimioterapia. Um total de 284 (50%) pacientes designados para cemiplimabe e 281 (50%) designados para quimioterapia tinham expressão de PD-L1 de pelo menos 50%.
Aos 35 meses de acompanhamento, entre aqueles com expressão de PD-L1 ≥50%, a sobrevida global mediana no grupo cemiplimabe foi de 26,1 meses (95% CI 22,1–31,8) versus 13,3 meses (10,5–16,2) no grupo de quimioterapia (razão de risco [HR] 0,57, 95% CI 0,46–0,71; p<0,0001), enquanto a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 8,1 meses (95% CI 6,2–8,8) no grupo cemiplimabe versus 5,3 meses (4,3– 6,1) no grupo de quimioterapia (HR 0,51, IC 95% 0,42–0,62; p<0·0001). A continuação de cemiplimabe com quimioterapia como terapia de segunda linha (n=64) resultou em sobrevida livre de progressão mediana de 6,6 meses (6,1-9,3) e sobrevida global de 15,1 meses (11,3-18,7).
Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos emergentes do tratamento de grau 3–4 mais comuns foram anemia (15 [4%] de 356 pacientes no grupo cemiplimabe vs 60 [17%] de 343 no grupo controle), neutropenia (três [1%] vs 35 [10%]) e pneumonia (18 [5%] vs 13 [4%]). Mortes relacionadas ao tratamento ocorreram em dez (3%) de 356 pacientes tratados com cemiplimabe (devido a miocardite autoimune, insuficiência cardíaca, parada cardiorrespiratória, insuficiência cardiopulmonar, choque séptico, hiperprogressão tumoral, nefrite, insuficiência respiratória, [n=1 cada ] e distúrbios gerais ou desconhecidos [n = 2]) e em sete (2%) de 343 pacientes tratados com quimioterapia (devido a pneumonia e embolia pulmonar [n = 2 cada], parada cardíaca, abscesso pulmonar e infarto do miocárdio [ n=1 cada]). O perfil de segurança de cemiplimabe aos 35 meses, e da continuação de cemiplimabe mais quimioterapia, foi geralmente consistente com o previamente observado para esses tratamentos, sem novos sinais de segurança.
Em síntese, aos 35 meses de acompanhamento, o benefício de sobrevida de cemiplimabe para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas avançado foi pelo menos tão pronunciado quanto em 1 ano, afirmando seu uso como monoterapia de primeira linha para essa população. A adição de quimioterapia a cemiplimabe na progressão pode fornecer um novo tratamento de segunda linha para pacientes com CPCNP avançado.
“Este é o primeiro estudo prospectivo a avaliar a continuação da imunoterapia e associação com imunoterapia no momento da progressão, com resultados clínicos promissores. No entanto, ainda faltam dados randomizados demonstrando a superioridade desta estratégia frente ao uso de quimioterapia isolada na progressão à imunoterapia para a incorporação desta estratégia na prática clínica”, conclui Harada.
Este estudo tem financiamento da Regeneron Pharmaceuticals e da Sanofi e está registrado na ClinicalTrials.gov: NCT03088540.
Referência: First-line cemiplimab monotherapy and continued cemiplimab beyond progression plus chemotherapy for advanced non-small-cell lung cancer with PD-L1 50% or more (EMPOWER-Lung 1): 35-month follow-up from a mutlicentre, open-label, randomised, phase 3 trial - Prof Mustafa Özgüroğlu, MD; Prof Saadettin Kilickap, MD; Prof Ahmet Sezer, MD; Prof Mahmut Gümüş, MD; Prof Igor Bondarenko, MD; Miranda Gogishvili, MD et al. Published: August 14, 2023 DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00329-7