A prática da oncologia brasileira tem cor e um perfil bem definido: o de uma pessoa branca, com pouco mais de 40 anos de idade, que atua predominantemente no setor privado (38%) e se reconhece satisfeita com a carreira médica. Os dados são do ‘Censo SBOC da Oncologia Clínica, quem somos?’, promovido pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em parceria com o Instituto Datafolha. “A partir dos dados do Censo, será possível atuar de maneira mais direcionada para fortalecer a oncologia clínica brasileira”, avalia Carlos Gil Ferreira (foto), presidente da SBOC na gestão 2023.
A pesquisa foi realizada entre maio e junho de 2023 e anunciada na abertura do congresso anual da SBOC, que acontece de 16 a 18 de novembro no Rio de Janeiro. O mapeamento revela que a especialidade alcançou paridade de gênero, com as mulheres representando 50% dos profissionais em atividade, embora as desigualdades raciais persistam como um desafio a ser superado: 81% se autodeclararam brancos, 16% pardos, 2% amarelos e apenas 1% negros. O estudo seguiu metodologia quali-quantitativa e contou com a participação de 761 oncologistas associados, de mais de 200 municípios, nas 5 regiões do país.
A despeito da paridade de gênero, distinções importantes foram observadas entre oncologistas homens e mulheres. Elas são mais jovens, com 55% abaixo de 39 anos, enquanto entre eles 34% têm idade média de 46 anos.
A concentração regional reflete na oncologia as assimetrias já conhecidas no campo da Saúde, com mais da metade dos entrevistados no Sudeste (54%), enquanto o Nordeste tem 18%, seguido pelo Sul (17%), Centro-oeste (9%) e Norte (3%). Outro indicador que não chega a surpreender é a disponibilidade de oncologistas segundo a localização geográfica. A absoluta maioria (70%) mora em capitais e regiões metropolitanas, enquanto 29% estão no interior do país.
Quanto ao ambiente de trabalho, a maioria dos oncologistas clínicos associados à SBOC atua predominantemente no setor privado, com 38% somente nesse segmento e 32% também na rede pública, embora atuem principalmente na rede particular. O fenômeno da pejotização marca as relações de trabalho no setor privado, com 90% dos oncologistas atuando como pessoa jurídica (PJ), enquanto no serviço público 50% são contratados ou atuam nessa categoria, 26% sob regime de CLT e 14% como estatutários.
A pesquisa também revelou que 49% dos oncologistas clínicos atuam como generalistas, 16% concentram-se exclusivamente em suas subespecialidades e 35% se dividem entre as duas áreas. Quarenta e dois por cento dos participantes atendem, em média, até 10 novos pacientes (primeiras consultas) por mês; e 11% mais de 30 novas consultas.
Na rede pública, 65% relataram ter acesso irrestrito à tecnologia de radioterapia e 57% à cirurgia oncológica. Desafios do acesso são comuns à assistência pública e privada, com 54% destacando dificuldades no acesso a novos medicamentos como o principal desafio na prática profissional, além do alto custo dos tratamentos (46%) e do subfinanciamento e/ou gestão ineficiente dos sistemas de saúde (36%). O diagnóstico tardio foi apontado por 42%.
Apesar das dificuldades e do estresse na prática profissional, mais acentuado entre as mulheres (60%) do que entre homens (50%), a grande maioria dos oncologias (65%) se diz satisfeita com a carreira.