Fernando Korkes e colegas descrevem como um programa centralizado em uma clínica multidisciplinar (programa CABEM) no sudeste brasileiro reduziu a mortalidade relacionada ao tratamento do câncer de bexiga músculo invasivo de 37% para 5% em 2 anos. Os resultados estão no JCO Global Oncology.
O câncer de bexiga músculo invasivo (MIBC, da sigla em inglês) é uma doença agressiva, com um tratamento complexo. “Criamos um programa centralizado e multidisciplinar (programa CABEM) em uma região abrangendo sete municípios. O objetivo foi avaliar o impacto nos resultados dos pacientes com MIBC “, descrevem os autores.
Nesta análise, 116 pacientes consecutivos foram incluídos, distribuídos em dois grupos. No grupo 1, foram avaliados retrospectivamente 58 pacientes com MIBC tratados de 2011 a 2017, antes da implementação do programa CABEM. O grupo 2 compreendeu 58 pacientes com MIBC tratados depois que o programa CABEM foi instituído.
Os pacientes do grupo 2 eram mais velhos (68 v 64,2 anos, P = 0,02), com índice de massa corporal mais alto (25,5 v 22,6 kg / m2, P = 0,017) e mais comorbidades de acordo com os critérios de Charlson ajustadas por idade (4,2 v 2,8, P = 0,0007) e de Isbarn (60,6 v 43,9, P = 0,0027).
A cistectomia radical (RC) foi a única modalidade de tratamento para os pacientes do grupo 1, enquanto no grupo 2 houve 31 (53%) RC; três (5%) cistectomias parciais; sete (12%) terapias trimodais; 13 (22%) quimioterapias paliativas; e três (5%) ressecções transuretrais exclusivas do tumor de bexiga. Nenhum paciente do grupo 1 recebeu quimioterapia neoadjuvante, enquanto esta foi ofertada a 69% dos pacientes tratados com RC. As taxas de mortalidade em 90 dias foram de 34,5% versus 5% para os grupos 1 versus 2 (P <0,002). A mortalidade em um ano também foi menor no grupo 2.
“Após a implementação do programa CABEM, estratégias de preservação da bexiga também puderam ser adotadas e uma redução impressionante de sete vezes na mortalidade foi observada”, descrevem.
Em conclusão, os dados de Korkes et al. apoiam um programa centralizado com uma equipe multidisciplinar e a inclusão de tratamentos de quimioterapia e radioterapia para melhorar os resultados dos pacientes com MIBC.
“Algumas neoplasias dependem de um tratamento complexo e multidisciplinar para garantir bons resultados. O câncer de bexiga é um exemplo da necessidade da centralização do atendimento. Centros de referência tornam-se capazes de tratar de forma mais eficiente e ágil estes pacientes, o que se traduz em melhores desfechos. A combinação de cirurgia, quimioterapia (ou outras terapias sistêmicas) e radioterapia dependem de uma integração refinada entre os diferentes profissionais envolvidos. No SUS isto somente é possível a partir do estímulo à criação de centros de referência. Precisamos cada vez mais promover a centralização do tratamento de alguns tipos de câncer no SUS”, destaca Korkes.
Este estudo multicêntrico tem participação de pesquisadores da Faculdade de Medicina do ABC (Divisão de Urologia e Divisão de Oncologia), do Hospital Municipal da Vila Santa Catarina e Hospital Israelita Albert Einstein, além da participação de pesquisadores da Universidade de Birmingham e do Moffit Cancer Center, Tampa, FL.
Referência: Dramatic Impact of Centralization and a Multidisciplinary Bladder Cancer Program in Reducing Mortality: The CABEM Project - Fernando Korkes, Frederico Timóteo, Suelen Martins, Matheus Nascimento, Camila Monteiro, José H. Santiago, Willy Baccaglini, Marcel A. Silveira, Eduardo F. Pedroso, Marcello M. Gava, Prashant Patel, Phillipe E. Spiess, and Sidney Glina - DOI: 10.1200/GO.21.00104 JCO Global Oncology no. 7 (2021) 1547-1555. Published online November 12, 2021.