O comentado estudo CHAARTED foi publicado no New England Journal of Medicine, na edição de 5 de agosto. O estudo mostrou que a adição de docetaxel à terapia de privação de androgênio (ADT) na doença metastática melhorou significativamente a sobrevida de pacientes com diagnóstico recente na comparação com ADT isoladamente, principalmente naqueles com alto volume de doença. Igor Morbeck (foto), do Grupo Brasileiro de Tumores Urológicos, comenta os resultados.
“Há pouco mais de um ano, tivemos a apresentação de um dado impactante no tratamento do câncer de próstata metastático com a divulgação dos dados do estudo CHAARTED na ASCO 2014. A diferença na sobrevida mediana favorecendo os pacientes no braço de tratamento combinado com ADT (terapia de deprivação androgência) associada ao docetaxel chamaram a atenção da comunidade uro-oncológica mundialmente. A diferença de 17 meses na sobrevida em favor da quimioterapia foi algo sem precedentes no tratamento do câncer de próstata metastático. Porém, no mesmo ano, os dados do estudo GETUG-AFU 15 vieram na contra-mão do estudo CHAARTED. Com um desenho semelhante, mas iniciado em uma época mais precoce (os primeiros resultados foram analisados em 2011), o estudo francês não mostrou diferença de sobrevida global a favor da quimioterapia precoce. Importante ressaltar que, nesta época, drogas que aumentaram a sobrevida global, tais como enzalutamida e abiraterona não estavam disponíveis. Além disto, o estudo GETUG teve uma população de pacientes de alto risco menor que o CHAARTED (52% vs 65%, respectivamente).
Em 2015, o estudo STAMPEDE chegou para promover um desempate sobre a controvérsia gerada nos dois primeiros estudos. Este é um estudo robusto com mais de 6000 pacientes envolvidos e com muitos braços diferentes de tratamento. Em resumo, o STAMPEDE vai ao encontro do CHAARTED, mostrando preliminarmente um benefício na ordem de 10 meses também favorecendo a combinação precoce de quimioterapia e ADT na doença metastática de alto risco.
Finalmente, os dados do estudo CHAARTED foram publicados no início deste mês na revista New England Journal of Medicine. Não houve evidentes mudanças nos resultados previamente apresentados, porém, o impacto de uma publicação deste nível, atrelada à impecável qualidade cientifica do autor e dos co-autores, fazem com que a robustez destes dados repercutam em todo o mundo com uma mudança de paradigma de tratamento do câncer de próstata metastático de alto risco.
Importante ressaltar que estes resultados não devem ser extrapolados para todos os pacientes. Idosos, pacientes frágeis, com comorbidades e com baixo volume de doença, a associação da quimioterapia pode não impactar tão favoravelmente na sobrevida global e pode ser inclusive deletéria na qualidade de vida.
Em conclusão, este é mais um dado que contribui com um passo a frente, dentro da grande mudança ocorrida no câncer de próstata metastático nos últimos cinco anos”.
Referência: Chemohormonal Therapy in Metastatic Hormone-Sensitive Prostate Cancer - Christopher J. Sweeney, M.B., B.S., Yu-Hui Chen, M.S., M.P.H., Michael Carducci, M.D., Glenn Liu, M.D., David F. Jarrard, M.D., Mario Eisenberger, M.D., Yu-Ning Wong, M.D., M.S.C.E., Noah Hahn, M.D., Manish Kohli, M.D., Matthew M. Cooney, M.D., Robert Dreicer, M.D., Nicholas J. Vogelzang, M.D., Joel Picus, M.D., Daniel Shevrin, M.D., Maha Hussain, M.B., Ch.B., Jorge A. Garcia, M.D., and Robert S. DiPaola, M.D.
August 5, 2015DOI: 10.1056/NEJMoa1503747