Lideranças que se reuniram para discutir o acesso a medicamentos essenciais no tratamento do câncer defendem a necessidade de aumentar a colaboração e o compartilhamento de experiências para melhorar o acesso global. “Embora exista muito trabalho em curso para melhorar mundialmente o acesso ao tratamento contra o câncer, a comunicação e a sinergia entre projetos e organizações poderiam ser aprimoradas, através de uma plataforma de colaboração e partilha de conhecimentos especializados”, propõem os stakeholders, em relatório no JCO Global Oncology.

Várias iniciativas independentes buscaram melhorar o acesso a medicamentos contra o câncer e novas iniciativas estão em desenvolvimento. Em artigo no JCO Global Oncology Briercheck et al. sintetizam as proposições dos principais stakeholders do setor, a partir de dois grandes fóruns: o congresso  mundial da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC World Cancer Congress),  realizado em Genebra, Suíça, em outubro de 2022,  e o congresso da Sociedade Americana de Oncologia (ASCO), realizado em junho de 2023, em Chicago.

Com a participação de lideranças mundiais - médicos, pesquisadores, sociedades profissionais, indústria farmacêutica, organizações de defesa de pacientes, organizações e fundações de câncer, formuladores de políticas e órgãos reguladores, financiadores e  representantes de institutos de câncer, os encontros definiram medidas e caminhos para ampliar globalmente o acesso a medicamentos oncológicos essenciais (Efforts to Improve Global Access to Cancer Therapeutics:  2022/2023 Access to Essential Cancer Medicines Stakeholder Summit).

O encontro  resultou em novas percepções entre as partes interessadas e na colaboração planejada para abordar as barreiras ao acesso, estabelecendo ações específicas e cronogramas para implementação.

Os autores destacam que desde 1995 tem havido aumento acentuado no preço de novas terapias contra o câncer. “A maioria das novas terapias contra o câncer lançadas entre 2009 e 2014 custam mais de US$ 100.000 dólares americanos (USD) anualmente nos Estados Unidos. Cada ano de vida ajustado pela qualidade atualizado pela inflação custou às seguradoras/pacientes US$ 54.100 em 1995, US$ 139.100 em 2005 e US$ 207.000 em 2013”, ilustram.

Esses aumentos de preços não se limitam a novas terapias. Os medicamentos genéricos também foram sujeitos a aumentos, destacam  Briercheck  e colegas, em uma lógica que impacta diretamente o acesso, especialmente em países de baixa e média renda.

O custo frequentemente não se correlaciona com o valor ou grau de benefício clínico. “Estudo retrospectivo de ensaios clínicos randomizados de terapia sistêmica em câncer de mama, colorretal e de pulmão de células não pequenas, publicado entre 2010 e 2020, mostrou que entre os ensaios que atingiram o endpoint primário, o ganho mediano na sobrevida global e na sobrevida livre de progressão foi de apenas 3,4 e 2,9 meses, respectivamente”,  descrevem.

Em conclusão, o acesso sustentável a medicamentos de qualidade contra o câncer, a preços acessíveis é reconhecido como uma prioridade universal de saúde e exige uma ação conjunta da comunidade oncológica para garantir que os pacientes recebam os medicamentos certos, com segurança, e possam concluir o tratamento.

Referência:

Edward Briercheck et al., Unification of Efforts to Improve Global Access to Cancer Therapeutics: Report From the 2022/2023 Access to Essential Cancer Medicines Stakeholder Summit. JCO Glob Oncol 10, e2300256(2024). DOI:10.1200/GO.23.00256