Leonardo Gomes da Fonseca (foto), oncologista do ICESP, é primeiro autor de estudo que buscou elucidar o curso clínico de pacientes com colangiocarcinoma (CCA) na primeira coorte multicêntrica latino-americana, com resultados que representam um marco importante na cooperação internacional. “A alta prevalência de diagnóstico de CCA em estágio avançado na América Latina, particularmente entre indivíduos de etnia africana, juntamente com uma proporção significativa de pacientes hispânicos que não receberam quimioterapia, ressalta o prognóstico sombrio para esses pacientes”, destacam os autores, em artigo no The Lancet Regional Health Americas.
O colangiocarcinoma representa um desafio global de saúde, com taxas crescentes de incidência e mortalidade. Neste estudo de coorte observacional, os pesquisadores avaliaram indivíduos diagnosticados com CCA entre 2010 e 2023 em cinco centros de referência na América Latina. Dados demográficos, bioquímicos e clínicos foram analisados.
Os resultados de Fonseca et al. mostram que um total de 309 pacientes foram inscritos, com uma distribuição equilibrada de subtipos de CCA (intra-hepático, peri-hilar e distal), com hispânicos e caucasianos como os grupos étnicos predominantes, seguidos por africanos.
A análise revela que os principais fatores de risco identificados incluíram idade, diabetes, obesidade, MASLD (iniciais de Metabolic Dysfunction-Associated Steatotic Liver Disease), cálculos do ducto biliar e colecistite. Os autores descrevem que disparidades na prevalência de sobrepeso/obesidade foram observadas entre os subtipos e etnias de CCA, com taxas mais altas em CCA extra-hepático e entre hispânicos e caucasianos. No diagnóstico, 72% dos pacientes tinham pontuações ECOG-PS de 0–1, com apresentações da doença variando de localizada (47%) a localmente avançada (19%) e metastática (34%).
Em relação às taxas de sobrevida, pacientes que não receberam nenhuma terapia anticâncer apresentaram sobrevida média de 2,3 meses. As taxas de sobrevida melhoraram significativamente entre as modalidades de tratamento, com a cirurgia rendendo o maior tempo (34 meses), seguida pela quimioterapia (8 meses).
Fonseca e colegas destacam que os africanos apresentaram piores pontuações ECOG-PS e doença mais avançada, enquanto os hispânicos foram menos frequentemente tratados com quimioterapia para doença avançada, contribuindo para menores taxas de sobrevida (8,3 e 6 meses, respectivamente) na comparação com os caucasianos (12,6 meses).
Em síntese, esses achados revelam disparidades preocupantes nas taxas de sobrevida entre diferentes grupos étnicos e alta prevalência de diagnóstico de CCA em estágio avançado na América Latina, enfatizando a necessidade de novas estratégias de saúde pública. “Medidas urgentes são necessárias, incluindo a identificação de fatores de risco preveníveis, conscientização entre populações de alto risco e cobertura de saúde equitativa para lidar com essas disparidades”, analisam os autores.
Este estudo utilizou dados do Registro Latino-Americano de Colangiocarcinoma (LATAM-CCA), constituído em 2019. Após 5 anos de esforços colaborativos (2019-2024), esses achados refletem a primeira avaliação abrangente de CCA na América Latina e podem informar estratégias de saúde, tanto regional quanto globalmente.
Além de Leonardo Gomes da Fonseca, o trabalho tem participação de Laura Izquierdo-Sanchez, Pedro H. Hashizume, Yanina Carlino, Estefanía Liza Baca, Cristina Zambrano, Santiago A. Sepúlveda, Andrea Bolomo, Pedro M. Rodrigues (ICESP), Ioana Riaño, Andre Boonstra, Jose D. Debes, Luis Bujanda, Flair J. Carrilho (ICESP), Marco Arresen, Juan C. Roa, Enrique Carrera, Javier Díaz Ferrerf, Domingo Balderramo, Claudia P. Oliveira (FMUSP) e Jesus M. Banales, que assina como autor correspondente.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto no The Lancet Regional Health Americas.
Referência:
Cholangiocarcinoma in Latin America: a multicentre observational study alerts on ethnic disparities in tumour presentation and outcomes. da Fonseca, Leonardo G. et al. The Lancet Regional Health – Americas, Volume 40, 100952. DOI: 10.1016/j.lana.2024.100952