Onconews - Cold-cap: pesquisa com participação brasileira mostra eventos adversos

Cold_Cap_NET_OK.jpgO uso de hipotermia para a prevenção de alopecia induzida por quimioterapia tem crescido, mas procedimentos inadequados podem resultar em eventos adversos. É o que aponta estudo com participação brasileira, que relatou a ocorrência de lesões no couro cabeludo associadas ao cold-cap, um capacete usado para prevenir a alopecia causada pela quimioterapia citotóxica. O trabalho foi publicado na edição de 5 de maio da Breast Cancer Research and Treatment.

Os pesquisadores identificaram quatro pacientes que desenvolveram lesões relacionadas à hipotermia do couro cabeludo (frostbite), todas de grau 1/2. No entanto, a alopecia persistente foi observada em três pacientes.

“Incluímos o caso de uma paciente que já estava com alopecia devido à quimioterapia com antraciclinas, e quis usar a touca de criogel durante o tratamento com taxanos para tentar proteger os folículos e verificar se o cabelo voltaria a crescer mais rápido. Não existia relato na literatura comprovando que usar a touca ou qualquer técnica de crioterapia com alopecia já instalada faria repilar o cabelo, mas a ideia era plausível. No entanto, pela ausência de cabelos houve um contato direto da touca com o couro cabeludo em uma temperatura muito baixa (cerca de 25 graus negativos), o que causou um efeito adverso, uma queimadura na região”, explica a dermatologista Giselle de Barros Silva, do Centro Paulista de Oncologia (CPO), do Grupo Oncoclínicas, uma das autoras do estudo liderado por Mario E. Lacouture, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center. “Mas as lesões no couro cabeludo associadas ao uso de hipotermia são eventos adversos pouco frequentes e evitáveis, provavelmente relacionados a procedimentos impróprios durante a aplicação”, ressalta.
 
Além da alopecia total, outros fatores podem influenciar na eficácia do tratamento com crioterapia, como a menopausa, idade (mais de 54 anos) e/ou cabelos mais finos. “Nesses casos os pacientes podem ter menos benefícios com o tratamento. Além disso, alguns quimioterápicos apresentam uma resposta inferior com o uso da crioterapia. Na quimioterapia popularmente chamada de 'quimio vermelha', por exemplo, a crioterapia apresenta menos eficácia na preservação dos cabelos”, diz.
 
A especialista acrescenta que a máquina de crioterapia, aprovada no ano passado pela Anvisa, pode trazer um conforto maior que as toucas de criogel por apresentar um resfriamento contínuo a uma temperatura um pouco menos fria, com menor risco de queimadura. “Na experiência do Centro Paulista de Oncologia com a máquina de resfriamento não houve caso de queimadura, mesmo quando usada em pacientes com poucos cabelos", relata. "Temos observado que com a crioterapia os pacientes repilam mais rapidamente. Tivemos uma paciente que estava só com 20% de cabelo, quis usar a máquina de resfriamento e em apenas um ciclo de tratamento o cabelo já cresceu.  Mas é um dado a ser confirmado com uma maior casuística e não se aconselha usar o cold-cap nesses casos", acrescenta.

Novos estudos prospectivos são necessários para elucidar ainda mais o risco e padronizar métodos que possam ampliar a segurança do paciente.
 
Referência: Cold thermal injury from cold caps used for the prevention of chemotherapy-induced alopecia - Mario E. Lacouture  et al - First online: 05 May 2016 - Doi 10.1007/s10549-016-3799-7 Breast Cancer Res Treat