O Lancet Oncology publicou os resultados do CONCORD-31, análise que considerou registros individuais de 37,5 milhões de pacientes diagnosticados com um dos 18 tipos de câncer, a partir de 322 registros de dados populacionais, de 71 países. Os dados atualizam a vigilância mundial de sobrevida por câncer até 2014. A epidemiologista Maria Paula Curado, do A C Camargo Cancer Center, comenta os principais achados e analisa o cenário brasileiro.
Dos 71 países e territórios que participaram da base de dados, 47 forneceram informações com base em 100% de cobertura populacional. A análise considerou 18 tipos de câncer: esôfago, estômago, cólon, reto, fígado, pâncreas, pulmão, mama (mulheres), colo do útero, ovário, próstata e melanoma cutâneo em adultos, tumores cerebrais, leucemias e linfomas em adultos e crianças. Procedimentos padronizados de controle de qualidade foram aplicados aos registros para estimar a sobrevida em 5 anos, de acordo com os critérios do International Cancer Survival Standard.
Achados
As mais altas taxas de sobrevida por câncer em 5 anos foram registradas nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, ao lado dos países nórdicos.
Globalmente, as tendências de sobrevida aumentaram, mesmo para alguns dos tipos de câncer mais letais, com aumento de até 5% para câncer de fígado, pâncreas e pulmão em alguns países. Para as mulheres diagnosticadas com câncer de mama de 2010-14, a sobrevida em 5 anos foi de 89,5% na Austrália e de 90,2% nos EUA, mas as diferenças internacionais permanecem significativas, com níveis tão baixos quanto na Índia (66%).
Para os tumores gastrointestinais, os níveis mais elevados de sobrevida em 5 anos foram observados no sudeste da Ásia: na Coréia do Sul para câncer de estômago (68,9%), cólon (71,8%) e reto (71,1%); no Japão para câncer esofágico (36%); em Taiwan para câncer de fígado (27,9%). Em contraste, na mesma região a sobrevida foi geralmente menor do que em outros países para o melanoma de pele (59,9% na Coréia do Sul, 52,1% em Taiwan e 49,6% na China) e para neoplasias malignas linfóides (52 · 5%, 50 · 5% e 38 · 3%) e mielóides (45,9%, 33,4% e 24,8%). P
Para crianças diagnosticadas com leucemia linfoblástica aguda de 2010 a 14, a sobrevida em 5 anos variou de 49,8% no Equador a 95,2% na Finlândia. Nos tumores cerebrais, a sobrevida foi maior em crianças do que em adultos, mas a faixa global foi ampla (de 28,9% no Brasil para quase 80% na Suécia e na Dinamarca).
“O Brasil avançou, mas ainda temos que melhorar muito, principalmente quando se considera a sobrevida para o câncer de colo uterino, que está na tímida margem de 60-69%”, analisa Maria Paula Curado, atualmente também envolvida no estudo Global Burden of Disease. “Neste momento, o Brasil precisa ampliar suas bases de dados e qualificá-las para uma cobertura mais ampla. No CONCORDE, a cobertura foi apenas de 7,7% da população brasileira”, diz a epidemiologista. “Precisamos investir nos registros de câncer de base populacional brasileiros para garantir políticas de controle de câncer mensuráveis e com monitoramento dos cânceres preveníveis”, defende.
O programa CONCORD possibilita comparações importantes sobre a eficácia dos sistemas de saúde na oferta de cuidados oncológicos, considerando 18 tipos de câncer que juntos representam 75% de todos os cânceres diagnosticados anualmente em todo o mundo. Os indicadores do programa têm contribuído para uma sólida base de evidências, subsidiando políticas globais de controle do câncer.
Referências: Global surveillance of trends in cancer survival 2000–14 (CONCORD-3): analysis of individual records for 37 513 025 patients diagnosed with one of 18 cancers from 322 population-based registries in 71 countries - Allemani, ClaudiaBouzbid, S et al. - The Lancet , Volume 0 , Issue 0 - DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)33326-3