Há uma tendência preocupante de declínio ou estagnação no rastreamento do câncer cervical em alguns países de alta renda, o que afeta desproporcionalmente mulheres de comunidades desfavorecidas. O alerta foi reforçado por Descamps et al. no International Journal of Cancer, em comunicado que discute desafios e oportunidades identificados pelo consenso ACCESS (Advancing Cervical CancER ScreeningS), e destaca a importância de compartilhar as melhores práticas, através do diálogo internacional e da colaboração entre as partes interessadas.
Constituído em 2023, o ACCES se estabeleceu como uma coalizão para promover a saúde das mulheres, aumentando a participação no rastreamento do câncer cervical. Os autores lembram que no Reino Unido, por exemplo, a participação no rastreamento caiu de 78,6% em 2011 para 70,2% em 2021, enquanto na Holanda caiu de 66,2% em 2011 para 45,7% em 2022. “As razões por trás dessa participação abaixo do ideal no rastreamento são multifacetadas, abrangendo questões como falta de conscientização, crenças culturais, barreiras geográficas e financeiras e acesso limitado a cuidados de saúde”, descreve a publicação, reforçando a urgência de reverter essa tendência e evitar mortes desnecessárias.
Com esse objetivo, Descamps e colegas relatam que o ACCESS convocou um seleto grupo de profissionais de saúde seniores, pesquisadores e gerentes de programas de rastreamento do câncer cervical da Europa e América do Norte em uma mesa redonda no Congresso Internacional Multidisciplinar de HPV da European Research Organization on Genital Infection and Neoplasia (EUROGIN) em Estocolmo. No encontro, o grupo discutiu as seis principais recomendações de consenso para fomentar o rastreamento do câncer cervical (Consensus Group's White Paper “Turning The Tide: Recommendations To Increase Cervical Cancer Screening Among Women Who Are Under-Screened), considerando:
- Implementar iniciativas de educação, informação e conscientização direcionadas e culturalmente relevantes, particularmente focadas em mulheres com triagem insuficiente.
- Melhorar a acessibilidade ao rastreamento do câncer cervical.
- Apoiar os profissionais de saúde para aumentar a participação no rastreamento do câncer cervical.
- Incentivar e apoiar a criação de grupos nacionais de defesa de pacientes com câncer cervical e coalizões nacionais de prevenção do câncer cervical.
- Garantir que o seguro saúde cubra adequadamente o rastreamento em todos os países de alta renda.
- A sessão provocou discussão sobre as melhores práticas e desafios comuns dentro dos programas de rastreamento do câncer cervical e destacou que oferecer autoamostragem apenas para mulheres com triagem insuficiente tem o potencial de aumentar a participação no rastreamento, apesar de seu impacto limitado.
Os especialistas sublinharam que “no maior estudo populacional do mundo real até o momento, um grande número de indivíduos que participavam regularmente da triagem mudou da coleta feita pelo provedor para a autoamostragem. Isso foi visto como preocupante pelo desempenho do teste: a detecção relativa de NIC2+ com autoamostragem foi estimada em 76% em comparação com amostras coletadas pelo médico no mesmo estudo. Isso significa que quase uma em cada quatro mulheres com lesões cervicais poderia ser potencialmente perdida ao usar autoamostragem em programas de triagem”, comparam.
Os autores destacaram, ainda, outras propostas e iniciativas relevantes, lembrando que a colaboração tem papel central para enfrentar os desafios de ampliar a participação no rastreamento do câncer cervical.
A íntegra está disponível em acesso aberto no International Journal of Cancer, periódico da União Internacional de Controle do Cancer (UICC).