Artigo publicado no Lancet Regional Health – Americas discute os desafios e aponta possíveis soluções para mitigar o impacto do câncer de mama no Brasil, com atenção especial para a melhoria do diagnóstico precoce e do início do tratamento, etapas limitantes de todo o processo. Gustavo Bretas (foto), oncologista do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e do Grupo Oncoclínicas, é o primeiro autor do trabalho, que tem como coautores os médicos Nelson Luiz Renna e José Bines.
“Listamos as principais barreiras para o avanço do diagnóstico do câncer de mama no Brasil, com base nas evidências disponíveis, e propomos estratégias viáveis que podem servir como uma plataforma para enfrentar este grande desafio de saúde pública”, afirmam os autores.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum e a principal causa de morte relacionada à doença entre mulheres em todo o mundo1. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer, a doença é a neoplasia maligna mais comum entre as mulheres. As estimativas para o período de 2020-2022 indicam 66.280 novos casos de câncer de mama a cada ano, com 18068 mortes documentadas em 20192, 3.
Cerca de 40% de todos os casos de câncer de mama em mulheres brasileiras são diagnosticados em estágios avançados (III e IV), e apesar das estratégias que foram implementadas, como exames e campanhas educacionais5, esses números permanecem inalterados ao longo do tempo4.
Os autores observam que foram feitos avanços importantes no tratamento por meio de mamografia, procedimentos cirúrgicos avançados e terapias adjuvantes, ressaltando que ocorreram melhorias substanciais na sobrevida em muitos países, mesmo antes desses avanços tecnológicos e diagnósticos, o que sugere oportunidades importantes e menos complicadas para detecção e tratamento precoces que podem ser prontamente incorporadas em países de baixa e média renda (LMIC)11.
“A redução do tempo de espera para o início dos procedimentos terapêuticos é um dos principais problemas para a melhoria da qualidade de vida do paciente e possibilidades de cura10Políticas e programas para superar este cenário devem se concentrar em acelerar o fluxo do diagnóstico precoce ao início do tratamento e, em última análise, melhorar os resultados dos pacientes”, destaca a publicação.
As estratégias sugeridas podem abranger procedimentos como aprimoramento do exame clínico da mama, biópsia da mama e acurácia da patologia, bem como vigilância do câncer de mama e telemedicina. “Essas ações ocorrem ocasionalmente em uma única instituição, embora mais frequentemente os pacientes sejam transferidos para locais diferentes. Portanto, a navegação do paciente e a integração das configurações de cuidados primários e terciários são componentes-chave que merecem melhorias adicionais”, avaliam.
Os autores ressaltam que as estratégias individuais com o objetivo de melhorar o diagnóstico precoce e o início do tratamento também devem considerar as características culturais locais, bem como a infraestrutura já existente. “Algumas das sugestões fornecidas são complementares, enquanto outras podem ser até contraditórias. Patologia rápida e precisa é parte integrante de todas as sequências diagnósticas, mas é improvável que a clínica completa e a navegação do paciente estejam presentes no mesmo local. A implementação dessas ações envolve outras etapas essenciais que incluem, mas não se limitam, ao financiamento do programa e a formulação de políticas que não foram abordadas atualmente”, observam.
Os autores acrescentam que apesar da enorme quantidade de trabalho a ser feito para mudar a apresentação do câncer de mama em estágio avançado, o país tem características únicas que fornecem oportunidades para contornar muitas das barreiras que se apresentam. “O Brasil possui um Sistema Universal de Saúde (SUS), uma grande infraestrutura de agentes comunitários de saúde e um sistema de informação estabelecido para o controle do câncer de mama. O engajamento das diversas partes interessadas e a comunicação entre as partes são elementos essenciais para seguir em frente”, concluem.
Referência: Practical considerations for expediting breast cancer treatment in Brazil - Gustavo Bretas; Nelson Luiz Renna; José Bines - Open Access Published:August 03, 2021 - OI:https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100028