Meta-análise do International TEsticular CAncer Consortium (TECAC), que envolveu quase 200 mil homens, revelou 22 novos loci genéticos associados ao risco de suscetibilidade a tumores testiculares de células germinativas (TGCT, da sigla em inglês) - um aumento de 40% no número de regiões conhecidas pela associação com o câncer testicular. Os resultados foram reportados 23 de julho na Nature Communications, em acesso aberto. O oncologista Flavio Mavignier Carcano (foto), Diretor Acadêmico na Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata – FACISB e membro do TCGA Working Group em tumores testiculares, analisa o trabalho.
Os tumores de células germinativas testiculares são os mais comuns em homens jovens de ascendência europeia e têm marcadamente predisposição hereditária. Neste estudo, o International Testicular Cancer Consortium reuniu um robusto conjunto de dados - 10,156 e 179. 683 homens com e sem TGCT, respectivamente, para revisar sistematicamente resultados da análise de todo o genoma e sua correspondente associação com o risco de TGCT.
Os resultados da meta-análise identificaram 22 loci de susceptibilidade a TGCT. Homens com escore de risco poligênico (ERP) no percentual mais alto apresentaram risco 6,8 vezes maior de TGCT em comparação com homens com escores medianos. “Entre os homens com fatores de risco independentes de TGCT, como criptorquidia, o ERP pode orientar as decisões de triagem com o objetivo de reduzir as complicações relacionadas ao tratamento que causam morbidade de longo prazo nos sobreviventes”, destacam os autores.
A incidência de TGCT dobrou nos últimos 20 anos. A história familiar e a ocorrência de criptorquidia estão entre os maiores fatores de risco conhecidos, mas nenhum fator de risco ambiental robusto foi identificado. Agora, esses achados complementam a compreensão atual da patogênese da doença, elevando para 78 os loci de risco identificados até o momento.
O Consórcio TECAC tem como principal investigadora a médica Katherine L. Nathanson, vice-diretora do Penn's Abramson Cancer Center e Professor de Pesquisa Relacionada ao BRCA na Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia.“Este último conjunto de localizações genéticas ampliou nossa compreensão sobre os fatores hereditários no câncer testicular, à medida que buscamos melhorar o rastreamento entre homens que podem estar em alto risco”, disse Nathanson. “Embora esse câncer seja curável, identificar precocemente essa população de risco pode evitar certos tratamentos, como quimioterapia, que podem ter complicações tardias e indesejadas”, destacou.
Os tumores de células germinativas são responsáveis por 95% dos casos de câncer testicular. Os TGCTs são o câncer mais comum nos Estados Unidos e na Europa em homens brancos com idades entre 20 e 39 anos. Apesar das evidências significativas de que a suscetibilidade a esses tumores é hereditária, CHEK2 era o único gene de penetrância moderada em que variantes patogênicas haviam sido associadas ao risco de câncer, esclarece a publicação. Agora, Nathanson e colegas do TECAC usaram estudos de associação do genoma (GWAS, da sigla em inglês) para encontrar locais nos cromossomos – os chamados loci - que contêm variantes associadas a um risco aumentado de tumores de células germinativas.
Além da significância estatística dos 22 novos loci identificados, o estudo também demonstrou duas vias biológicas relevantes ligadas à suscetibilidade ao câncer testicular, ao desenvolvimento de células germinativas masculinas e à segregação cromossômica durante a divisão celular. Quando essas vias biológicas não funcionam adequadamente, elas levam à tumorigênese do TGCT. “Os resultados da nossa investigação fornecem uma compreensão mais aprofundada da arquitetura genética do TGCT e da biologia do desenvolvimento das células germinativas masculinas, destacando as vias biológicas especificamente importantes para o TGCT”, escreveram os autores. “É importante ressaltar que estabelecemos uma pontuação de risco poligênica que identifica os homens com maior risco e poderia ser aplicada em indivíduos com outros fatores de risco, para a detecção precoce da doença”, propõem os autores.
Carcano destaca que este é um estudo de grande relevância para o entendimento da patogênese dos tumores testiculares. “O escore de risco poligênico poderá ser usado em pacientes com maior risco para o desenvolvimento de tumores de testículo, guiando intervenções que poupem os pacientes dos efeitos do tratamento. Entretanto, ainda é precoce dizer se um eventual maior risco ditado pelo escore poligênico justificaria intervenções precoces, como orquiectomia profilática, para uma doença com altas taxas de cura. Mas certamente, pode definir uma nova forma de seguimento para estes pacientes com maior risco”, ressalta.
O oncologista acrescenta que ainda é necessário validar a reprodutibilidade de um eventual teste que permita aplicar o escore de risco, assim como definir seus custos para uma aplicação em maior escala. “A definição das vias biológicas envolvidas certamente abre a oportunidade para direcionar novas pesquisas relacionadas a estas vias envolvidas na tumorigênese dos tumores de células germinativas de testículo”, conclui Carcano.
Referência: Pluta, Louise C. Pyle, […] The Testicular Cancer Consortium. Identification of 22 susceptibility loci associated with testicular germ cell tumors. Nature Communications volume 12, Article number: 4487 (2021)