Um consórcio internacional apresentou uma nova proposta para o prognóstico de pacientes com leucemia linfocítica crônica (LLC), em artigo publicado no Lancet Oncology. Em um momento de avanços proporcionados por modernas terapias e pela maior compreensão de uma série de variáveis biológicas e genéticas que agregam informações importantes aos sistemas clássicos de estadiamento clínico, novos parâmetros prognósticos esperam fazer frente à nova realidade.
“Esta publicação realmente agrega valor. O estadiamento de Rai e Binet foram as primeiras tentativas de estabelecer prognóstico. Apesar de serem atuais até hoje, não são mais suficientes, considerando-se as alterações cromossômica e outros fatores prognósticos”, afirma Nelson Hamerschlak, coordenador do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo Hamerschlak, a criação de um "score prognóstico" baseado nas principais variáveis prognósticos como mutação do TP53 ou del[17p], ou os dois, mutação da cadeia pesada da imunoglobulina (IGHV), concentração da B2 microglobulina, asteroid clínico (Binet ou Rai) e idade usadas para estabelecer quatro grupos de risco com sobrevidas bem estabelecidas, e ainda por cima já validado, possibilita através de uma combinação de parâmetros clínicos, bioquímicos e genéticos um melhor manuseio dos pacientes com LLC. “Considerando-se que hoje temos novas drogas associadas ou não a tratamentos já consagrados e ainda o transplante de medula óssea, será possível escolher melhor o tratamento de uma forma individualizada e personalizada”, conclui.
Métodos
O consórcio avaliou dados de 3472 pacientes sem tratamento prévio, dos quais 2308 foram aleatoriamente designados como dados de investigação e 1.164 como dados de validação. A idade média dos pacientes foi de 61 anos (variação 27-86).
Cinco fatores prognósticos independentes foram identificados no grupo de investigação: status do TP53 (sem anormalidades versus del [17p] ou mutação no TP53 ou ambos), status mutacional do IGHV (mutado vs não mutado), concentração sérica de β2-microglobulina (≤3,5 mg/L vs> 3,5 mg/L), estadiamento clínico (Binet A ou Rai 0 versus Binet B-C ou Rai I-IV), e idade (≤65 anos vs> 65 anos). Usando uma classificação ponderada dos fatores independentes, o consórcio definiu um índice prognóstico que identificou quatro grupos de risco tendo em perspectiva a sobrevida global em 5 anos: baixo (93·2% [95% CI 90·5–96·0]), intermediário (79·3% [75·5–83·2]), alto (63·3% [57·9–68·8]) e muito alto risco (23·3% [12·5–34·1]; (p <0 · 0001).
Os grupos de risco foram confirmados nos dados de validação.
Para os autores, a LLC combina parâmetros genéticos, bioquímicos e clínicos e o modelo de prognóstico proposto, ao discriminar quatro subgrupos, permitirá uma gestão mais específica de pacientes com leucemia linfocítica crônica tanto na prática clínica como no cenário de ensaios clínicos para o teste de novos medicamentos.
O estudo foi financiado pela Fundação José Carreras.
Referência: An international prognostic index for patients with chronic lymphocytic leukaemia (CLL-IPI): a meta-analysis of individual patient data - The International CLL-IPI working group† - Lancet Oncology Published Online: 13 May 2016 - DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(16)30029-8