Comer mais alimentos ultraprocessados aumenta o risco de desenvolver e morrer de câncer, especialmente câncer de ovário. É o que mostra estudo prospectivo que acompanhou 197 mil pessoas no Reino Unido, mais da metade mulheres. O estudo tem participação das brasileiras Fernanda Rauber e Renata B. Levy, pesquisadoras do Departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina da Universidade de São Paulo, e os resultados foram publicados 31 de janeiro na eClinicalMedicine.
Nesta análise os pesquisadores examinaram a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados (UPF, da sigla em inglês) e o risco de câncer e de mortalidade associados para 34 tipos de câncer. Foram incluídos participantes do Biobank do Reino Unido (40 a 69 anos) que completaram recordatórios alimentares de 24 horas entre 2009 e 2012 (N = 197426, 54,6% mulheres), acompanhados até 31 de janeiro de 2021.
Os autores descrevem que os alimentos consumidos foram categorizados de acordo com o grau de processamento, usando o sistema de classificação NOVA. O consumo de UPF foi expresso como percentual da ingestão alimentar total (g/dia). As associações prospectivas foram avaliadas usando modelos multivariados de riscos proporcionais de Cox ajustados para características sociodemográficas basais, tabagismo, atividade física, índice de massa corporal, consumo de álcool e energia total.
Os resultados reportados mostram que o consumo médio de UPF foi de 22,9% (DP 13,3%) na dieta total. Durante acompanhamento mediano de 9,8 anos, 15.921 indivíduos desenvolveram câncer e ocorreram 4.009 mortes relacionadas ao câncer. Cada aumento de 10 pontos percentuais no consumo de AUP foi associado a um aumento na incidência de câncer geral (razão de risco, 1,02; IC 95%, 1,01–1,04) e especificamente de ovário (1,19; 1,08–1,30). Além disso, cada aumento de 10 pontos percentuais no consumo de UPF foi associado a um risco aumentado de mortalidade geral relacionada ao câncer (1,06; 1,03–1,09), especialmente ovário (1,30; 1,13–1,50) e mama (1,16; 1,02–1,32).
“Nosso estudo de coorte baseado no Reino Unido sugere que o maior consumo de alimentos ultraprocessados pode estar ligado a um aumento da carga e da mortalidade para cânceres gerais e específicos de determinados locais, especialmente câncer de ovário em mulheres”, concluem os autores.
Este estudo foi financiado pela Cancer Research UK e pelo World Cancer Research Fund.
A íntegra do estudo está disponível, em acesso aberto.
Referência: Ultra-processed food consumption, cancer risk and cancer mortality: a large-scale prospective analysis within the UK Biobank - Published:January 31, 2023 DOI:https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2023.101840