Apesar de um aumento constante na utilização de cuidados paliativos nos EUA de 2004 a 2020, pacientes com câncer de mama metastático negros não-hispânicos, hispânicos e asiáticos ou das ilhas do Pacífico tiveram menor probabilidade de receber cuidados paliativos do que pacientes brancos não-hispânicos. Os resultados foram apresentados em encontro promovido pela AACR, que acontece de 29 de setembro a 2 de outubro.
Os cuidados paliativos consistem em tratamentos ou procedimentos destinados a aliviar a dor e outros efeitos colaterais associados ao câncer ou à terapia oncológica. As diretrizes de conduta da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) recomendam a rápida integração dos cuidados paliativos ao plano de cuidados do paciente oncológico, diante de evidências de que essa integração pode melhorar a qualidade de vida e até a sobrevida global.
As diretrizes da NCCN para cuidados paliativos ainda recomendam que todos os pacientes com câncer devem ser rastreados para determinar as suas necessidades de cuidados paliativos, tanto no início quanto durante o curso do tratamento. Além disso, pacientes, familiares e cuidadores devem ser informados de que os cuidados paliativos são parte integrante do tratamento.
“É essencial identificar as necessidades desses pacientes, particularmente das populações de minorias raciais/étnicas, e avaliar como os programas de oncologia podem integrar os cuidados paliativos precocemente no curso do tratamento do câncer, garantindo ao mesmo tempo acesso equitativo”, disse Jincong Freeman, doutorando estudante do Departamento de Ciências da Saúde Pública da Universidade de Chicago, que apresentou o estudo.
Freeman e colegas buscaram avaliar como o uso de cuidados paliativos nos EUA mudou ao longo do tempo para pacientes com câncer de mama metastático. Os pesquisadores também consideraram diferenças na adoção de cuidados paliativos entre diferentes grupos raciais e étnicos, para compreender potenciais disparidades.
Nesta análise, Freeman e colegas utilizaram dados do National Cancer Database (NCDB), com dados de pacientes de mais de 1.500 centros de tratamento de câncer nos EUA. Os registros usados neste estudo foram coletados entre 2004 e 2020 e compreenderam 148.931 pacientes com câncer de mama metastático de novo.
O estudo mostrou que o uso de cuidados paliativos aumentou significativamente ao longo do tempo, de 14,9% em 2004 para 27,6% em 2020. Aumentos foram observados em todos os grupos raciais e étnicos. No entanto, pacientes negros não-hispânicos, asiáticos ou das ilhas do Pacífico e hispânicos tiveram 13%, 26% e 35% menos probabilidade de receber cuidados paliativos, respectivamente, do que pacientes brancos não-hispânicos, ajuste para fatores clínicos e sociodemográficos. Não houve diferença significativa no uso de cuidados paliativos entre pacientes brancos não-hispânicos e pacientes identificados como índios americanos, nativos do Alasca ou outros.
Em conclusão, apesar do aumento, o uso de cuidados paliativos permaneceu abaixo do ideal, já que mais de 70% dos pacientes não receberam cuidados paliativos em 2020. Embora o NCDB não tenha avaliado as razões subjacentes à omissão de cuidados paliativos, Freeman especula que a falta de consciência, crenças culturais e as preferências do médico podem ter contribuído para esses resultados.
“Nossos achados ressaltam a importância de promover os benefícios dos cuidados paliativos e de abordar as disparidades raciais/étnicas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com câncer de mama metastático”, disse Freeman.
Este estudo foi financiado pela Breast Cancer Research Foundation, pelo National Cancer Institute do National Institutes of Health e pela Susan G. Komen Breast Cancer Foundation.
Referência: 16th AACR Conference on the Science of Cancer Health Disparities in Racial/Ethnic Minorities and the Medically Underserved