Camila Muzi, do Instituto Nacional do Câncer (INCA), é primeira autora de estudo que descreve as taxas de mortalidade por câncer colorretal (CCR) na América Latina, de 1990 a 2019. Os resultados indicam que em quase 30 anos houve aumento de 20,56% na taxa ajustada de mortalidade por CCR na região.
Nesta análise, os pesquisadores utilizaram o estudo Global Burden of Disease (GBD) para extrair as taxas de mortalidade ajustada por idade, considerando 22 países, sub-regiões e grupos de países latino-americanos previamente classificados no estudo GBD pelo Índice Sociodemográfico (SDI), entre 1990 e 2019. Muzi e colegas analisaram a tendência temporal, além de estimar a correlação entre as taxas de mortalidade e as categorias do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para esses países.
Os resultados foram publicados na Frontiers in Oncology e mostram que entre 1990 e 2019, a taxa ajustada de mortalidade por câncer colorretal aumentou 20,56% na América Latina (IC 95% 19,75% - 21,25%). Entre 1990 e 2004, a variação percentual anual média (APC) foi de 0,11% ao ano (IC 95% 0,10–0,12), e entre 2004 e 2019 houve desaceleração (APC = 0,04% ao ano, IC 95% 0,03%– 0,05%). “Existe grande heterogeneidade entre os países da região. A correlação entre essas duas variáveis foi de 0,52 para 1990 e 2019. Quando separadas em grupos de IDH, a correlação variou na direção da associação e na sua magnitude, tipificando uma modificação de efeito conhecida como Paradoxo de Simpson”, descrevem os autores.
A conclusão de Muzi e colegas destaca que os fatores de desenvolvimento humano podem ser importantes para avaliar a variação na mortalidade por câncer em escala global. “Estudos que considerem os contextos sociais e econômicos dos países são necessários para uma avaliação robusta e para a prestação de serviços preventivos, diagnósticos e terapêuticos para reduzir a mortalidade por câncer na América Latina”.
O câncer colorretal ocupa o segundo lugar entre tumores com maior mortalidade. Estimativas da GLOBOCAN indicam mais de 900.000 mortes em 2020, representando 10% das mortes por câncer em geral. O estudo Global Burden of Disease estimou que o peso das doenças associadas ao câncer de cólon e do reto causou 24,3 milhões de anos de incapacidade em todo o mundo, dos quais 4,4% são causados por morte prematura. Em 2019, o câncer colorretal tornou-se a principal causa de morte em 9 países para mulheres e em 11 países para homens.
A Íntegra do artigo está disponível em acesso aberto. O trabalho tem como coautores Matthew P. Banegas, da Universidade da Califórnia, e Raphael M. Guimarães, da Escola de Saúde Pública da Fiocruz, autor sênior e correspondente.
Referência: Muzi CD, Banegas MP, Guimarães RM (2023) Colorectal cancer disparities in Latin America: Mortality trends 1990–2019 and a paradox association with human development. PLoS ONE 18(8): e0289675. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0289675