Onconews - DBCG 07-READ: 10 anos de acompanhamento do uso adjuvante de antraciclinas no câncer de mama TOP2A normal

A análise primária do estudo dinamarquês DBCG 07-READ relatado em 2017 forneceu evidências de nenhum benefício no uso adjuvante de antraciclinas em pacientes com câncer de mama inicial TOP2A normal em relação à sobrevida livre de doença (SLD), sobrevida livre de doença distante (SLDD) ou sobrevida global (SG). Análise atualizada com 10 anos de acompanhamento contraria os resultados iniciais e mostra benefícios marginais nos desfechos avaliados, mas às custas do risco duas vezes maior de insuficiência cardíaca.

Entre junho de 2008 e dezembro de 2012, um total de 2.012 pacientes com tumor TOP2A normal foram randomizados  para epirrubicina e ciclofosfamida, seguidos de docetaxel (EC-D; n = 1.001) ou docetaxel e ciclofosfamida (DC;n = 1.011).

Em um seguimento mediano de 10 anos, pacientes na população com intenção de tratar tratados com epirrubicina e ciclofosfamida seguidos por docetaxel (EC-D) tiveram SLDD mais prolongada (razão de risco ajustada [HR], 0,79 [IC de 95%, 0,64 a 0,98]; P = 0,03) e maior SLD (HR ajustado, 0,83 [IC de 95%, 0,69 a 0,99]; P = 0,04) do que aqueles tratados com docetaxel e ciclofosfamida (DC). Não houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de mortalidade. O risco cumulativo de insuficiência cardíaca em 10 anos foi de 2,1% (IC de 95%, 1,4 a 3,3) com EC-D e 1,1% (IC de 95%, 0,6 a 2,0) com DC (HR não ajustado, 2,12 [IC de 95%, 1,03 a 4,35]; P = 0,04).

Em conclusão,  esta atualização do estudo READ comparando quimioterapia adjuvante contendo antraciclina com um regime sem antraciclina em pacientes com câncer de mama com linfonodos positivos ou negativos de alto risco TOP2A normais mostra que, após 10 anos de acompanhamento, os resultados contrariam as observações iniciais. A quimioterapia adjuvante baseada em antraciclina reduziu modestamente, mas significativamente, o risco de recorrência do câncer de mama, sem afetar significativamente a mortalidade por todas as causas. Pacientes recebendo antraciclina tiveram duas vezes mais risco de falha cardíaca, mas o risco foi geralmente baixo.

“Esses e outros dados sugerem que muitos pacientes que precisam de quimioterapia adjuvante podem evitar antraciclinas com segurança para reduzir os efeitos tardios, incluindo toxicidade cardíaca de longo prazo e leucemia”, destaca editorial de Grinda et. al. no Journal of Clinical Oncology (JCO), que acompanha a publicação do artigo.

Referências:
  1. Maj-Britt Jensen et al., Adjuvant Docetaxel and Cyclophosphamide With or Without Epirubicin for Early Breast Cancer: Final Analysis of the Randomized DBCG 07-READ Trial. JCO 0, JCO.24.00836. DOI:10.1200/JCO.24.00836
  1. Thomas Grinda et al., Anthracyclines in Early Breast Cancer: The Long Goodbye. JCO 0, JCO-24-01916. DOI:10.1200/JCO-24-01916