Cerca de 1,5 mil participantes da Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai compõem a base de análise do Estudo de Perfil Molecular do Câncer de Mama, com resultados que representam avanços significativos na compreensão de procedimentos oncológicos em cenários de mundo real na América Latina. As pesquisadoras Dirce Maria Carraro (foto), do AC Camargo Cancer Center, Maria Aparecida Nagai, do ICESP, e Marcia Maria Marques, do Hospital de Câncer de Barretos, participam do estudo, publicado no JCO Global Oncology.

As taxas de mortalidade por câncer de mama na América Latina são mais altas do que as dos Estados Unidos, possivelmente devido à apresentação avançada da doença, disparidades nos cuidados de saúde ou subtipos moleculares desfavoráveis. A Rede Latino-Americana de Pesquisa sobre o Câncer foi criada para enfrentar esses desafios e promover a pesquisa clínica colaborativa.

O Estudo de Perfil Molecular do Câncer de Mama (MPBCS, da sigla em inglês) teve como objetivo avaliar as características clínicas e os resultados do tratamento de participantes latinoamericanos com câncer de mama localmente avançado.

O MPBCS inscreveu 1.449 participantes da Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai. Os pesquisadores avaliaram características clinicopatológicas, resposta à quimioterapia neoadjuvante e resultados de sobrevida de acordo com a carga residual de câncer (RCB) e o tipo de cirurgia.

Os resultados mostram que 711 e 480 participantes nos braços de cirurgia primária e neoadjuvante, respectivamente, completaram o período de acompanhamento de 5 anos. Os autores descrevem que a sobrevida global foi independentemente associada à carga residual de câncer (pior sobrevida para a razão de risco ajustada por RCBIII, 8,19, P < 0,001, e RCBII [razão de risco ajustada, 3,69, P < 0,008] em comparação com RCB0 [resposta patológica completa ou pCR]) e tipo de cirurgia (pior sobrevida na mastectomia do que na cirurgia conservadora da mama, razão de risco ajustada, 2,97, P = 0,001).

O estudo mostra, ainda, que o grupo receptor hormonal negativo e receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano positivo apresentou a maior proporção de pCR (48,9%). A análise de acordo com o módulo de mama da ASCO Quality Oncology Practice Initiative revelou alta conformidade com os padrões patológicos, mas menor adesão aos padrões de administração do tratamento. A adesão à administração de trastuzumabe variou amplamente entre os países (33,3%-88,7%).

“No câncer de mama localmente avançado na América Latina, demonstramos o benefício de sobrevida da cirurgia conservadora de mama e o efeito prognóstico da resposta aos tratamentos neoadjuvantes disponíveis, apesar da importante variabilidade no acesso aos principais tratamentos”, concluem os autores.

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

Referência:

Javier Retamales et al., Implementing Standard Diagnosis and Treatment for Locally Advanced Breast Cancer Through Global Research in Latin America: Results From a Multicountry Pragmatic Trial. JCO Glob Oncol 10, e2300216(2024). DOI:10.1200/GO.23.00216