A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) atualizou as recomendações para o tratamento adjuvante de pacientes com câncer de cólon estágio II ressecado. A revisão sistemática considerou vinte e um estudos observacionais e seis ensaios clínicos randomizados. Os resultados foram publicados na edição de março do Journal of Clinical Oncology (JCO). “Nessa revisão, a ASCO reforça a importância de reconhecer e categorizar os fatores de risco como guia para tomada de decisão", observa Anelisa Coutinho (foto), oncologista na clínica AMO e Diretora Científica do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
A quimioterapia adjuvante (ACT) não é rotineiramente recomendada para pacientes com câncer de cólon em estágio II que não estão em um subgrupo de alto risco. Pacientes com tumores T4 têm maior risco de recorrência e devem receber ACT, enquanto pacientes com outros fatores de alto risco, incluindo amostragem de menos de 12 linfonodos na peça cirúrgica, invasão perineural ou linfovascular, grau de tumor poorly pouco ou indiferenciado, obstrução, perfuração tumoral ou brotamento tumoral grau BD3, podem ser oferecidos ACT.
“Em um estadio onde a cirurgia isoladamente cura a maioria dos pacientes, o objetivo é poupar toxicidade não oferecendo quimioterapia adjuvante para quem não precisa, e ao mesmo tempo não deixar de oferecer o tratamento adjuvante para quem realmente pode se beneficiar. O difícil é reconhecer os grupos curados ou não com cirurgia, diante de tanta heterogeneidade”, avalia Anelisa.
Segundo o Painel de Especialistas, não é recomendada como rotina a adição de oxaliplatina à quimioterapia adjuvante à base de fluoropirimidina, mas a estratégia pode ser oferecida como resultado de uma tomada de decisão compartilhada.
"Além da reflexão caso-a-caso baseada nas melhores evidências dentro desse tema complexo sobre QT adjuvante em estadio II, um ponto primordial apontado na atualização da ASCO é a importância da decisão compartilhada médico-paciente, pesando prós e contras, riscos e benefícios", destaca a especialista.
Pacientes com tumores de deficiência no mismatch repair/instabilidade de microssatélites não devem receber quimioterapia adjuvante de rotina; se a combinação de deficiência de mismatch repair/instabilidade de microssatélites e fatores de alto risco resultar em na decisão de oferecer ACT, a recomendação é a quimioterapia contendo oxaliplatina.
Os autores também abordam a duração da quimioterapia contendo oxaliplatina, com recomendações para 3 ou 6 meses de tratamento com capecitabina e oxaliplatina ou fluorouracil, leucovorina e oxaliplatina, com tomada de decisão informada por evidências importantes de sobrevida livre de doença em 5 anos em cada subgrupo de tratamento e taxa de eventos adversos, incluindo neuropatia periférica.
"É esperado que o exame de DNA de células tumorais circulantes ( ct-DNA), apontado pela ASCO com potencial fator preditivo emergente, seja em breve mais uma ferramenta útil para a decisão de oferecer ou não quimioterapia adjuvante em estadio II", acrescenta Anelisa.
Informações adicionais estão disponíveis em www.asco.org/gastrointestinal-cancer-guidelines.
Referência: Baxter NN, Kennedy EB, Bergsland E, Berlin J, George TJ, Gill S, Gold PJ, Hantel A, Jones L, Lieu C, Mahmoud N, Morris AM, Ruiz-Garcia E, You YN, Meyerhardt JA. Adjuvant Therapy for Stage II Colon Cancer: ASCO Guideline Update. J Clin Oncol. 2022 Mar 10;40(8):892-910. doi: 10.1200/JCO.21.02538. Epub 2021 Dec 22. PMID: 34936379.