Qual o impacto da revisão dos diagnósticos de sarcoma em um centro especializado no Brasil? Estudo publicado no JCO Global Oncology mostrou que em quase 60% dos casos, o diagnóstico externo de sarcoma foi modificado quando revisado em um centro de referência por patologistas dedicados. O trabalho também ressaltou que os métodos moleculares, quando realizados, podem auxiliar nos diagnósticos em um terço dos casos. O oncologista Carlos Diego Holanda Lopes (foto), atualmente Clinical Fellow no Programa de Fase I, Sarcoma e Melanoma no Princess Margaret Cancer Centre, em Toronto, é o primeiro autor do trabalho.
Os pesquisadores realizaram uma análise retrospectiva de amostras de sarcoma inicialmente analisadas em laboratórios externos e posteriormente revisadas por dois patologistas especializados entre janeiro de 2014 e dezembro de 2020.
Após a obtenção das características demográficas e tumorais, os resultados patológicos foram pareados e classificados como discordância completa (DC; benigno x maligno, sarcoma x outras malignidades), concordância parcial (diagnóstico semelhante de tumor conjuntivo, mas diferente grau/subtipo histológico/diferenciação) e concordância completa (CC).
A concordância para histologia ou grau e o papel das avaliações moleculares que apoiam o diagnóstico também foram determinados de forma independente. As análises estatísticas foram realizadas por meio do coeficiente de concordância e aderência kappa pelo teste do χ2, teste do χ2 de Person e teste exato de Fisher.
No total, foram incluídos 197 casos, com amostras obtidas predominantemente de pacientes do sexo masculino (57,9%) e de tumores localizados/primários (86,8%). Após a revisão, os diagnósticos finais mais frequentes foram sarcoma pleomórfico indiferenciado (17,8%), lipossarcoma bem diferenciado/desdiferenciado (8,6%) e leiomiossarcoma (7,6%). Discordância completa foi encontrada em 13,2%, discordância parcial em 45,2% e concordância completa em 41,6% das revisões (P < 0,001).
Foi encontrada uma concordância para histologia ou grau de 53,5% (P < 0,001) e 51,8% (P < 0,001), respectivamente. Avaliações moleculares, compostas por painéis de sequenciamento de última geração (79,5%) e hibridização fluorescente in situ (20,5%), foram realizadas em 44 (22,3%) casos, com achados classificados como de relevância diagnóstica em 31,8%.
“Em quase 60% dos casos o diagnóstico inicial de sarcoma foi modificado quando revisado por centro de referência e patologistas dedicados, auxiliados por técnicas de patologia molecular. Estes resultados reforçam a necessidade de encaminhar pacientes com sarcoma para centros especializados e criar redes de colaboração em países com recursos limitados”, concluíram os autores.
Referência:
Carlos Diego H. Lopes et al., Discordance Between the Initial Diagnosis of Sarcomas and Subsequent Histopathological Revision and Molecular Analyses in a Sarcoma Reference Center in Brazil. JCO Glob Oncol 10, e2300431(2024). DOI:10.1200/GO.23.00431