Bruno Almeida Rezende, pesquisador da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, é autor correspondente de estudo que comparou a evolução da disfagia antes e depois da radioterapia (RT) no tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP). Os resultados relatados na BMC Cancer mostram que a RT para CCP leva ao desenvolvimento precoce de disfagia e pode afetar negativamente o estado nutricional e a qualidade de vida; a inclusão de quimioterapia ao regime de RT leva à piora mais acentuada dos parâmetros avaliados.
A radioterapia é o tratamento não cirúrgico mais comum para CCP e pode ou não ser combinada com quimioterapia (RT/QT). A disfagia, caracterizada pelo comprometimento da função de deglutição, é um dos efeitos colaterais mais comuns da RT em pacientes com CCP. A ocorrência da disfagia é observada durante e após a RT, podendo persistir por muito tempo após o tratamento. Essa condição é geralmente associada a outros sintomas, como desnutrição, desidratação, perda de peso, aspiração crônica e até pneumonia aspirativa, complicações com grande impacto na qualidade de vida.
Neste estudo prospectivo, o objetivo foi comparar a evolução da disfagia, o estado nutricional e a qualidade de vida (QV) nos períodos imediatamente anteriores e posteriores à RT para CCP em indivíduos que receberam apenas RT ou RT/QT. Pacientes de um hospital do sistema público de saúde brasileiro foram alocados em dois grupos: GRT (n = 20), composto por pacientes que receberam apenas RT para CCP, e GRTQT (n = 27), que receberam RT/QT. . Os pacientes foram avaliados antes e depois da RT para identificar e classificar a disfagia (protocolo PARD), variáveis antropométricas (IMC, espessura da prega cutânea do tríceps, circunferências do braço e da panturrilha e dinamometria manual) e QoL (questionários QLC-30 e H&N-35).
Os resultados mostram que os grupos foram homogêneos em características demográficas e estágio do tumor. O RQG mostrou maior proporção de piora da gravidade da disfagia (p < 0,01) e piora da avaliação antropométrica (p < 0,05). A análise também revelou correlação negativa entre a mudança inicial-final na disfagia e a mudança no IMC para a amostra total (rho=-0,379, p < 0,05).
Em síntese, a RT para CCP levou ao desenvolvimento precoce de disfagia e piorou a QV na maioria dos domínios avaliados, mas o grupo tratado com RT/QT mostrou piora adicional nos domínios de saúde global e náusea e vômito (p < 0,05).
O câncer de cabeça e pescoço é o sexto tipo de tumor maligno mais prevalente em homens e o décimo em mulheres, afetando aproximadamente 800 mil indivíduos a cada ano. Estima-se que a prevalência da disfagia atinja aproximadamente 60% dos pacientes após tratamento para CCP.
Além de Bruno Almeida Rezende, o trabalho tem participação de Marina de Castro Monteiro Franco Gomes como primeira autora e coautoria de Pedro Maciel de Vasconcellos Ferreira, Ana Clara Speziali Menegazzi Almeida, Júlia Soares Cornélio, Thiago Jardim Arruda, Arnoldo Mafra, Marcelo Henrique Silva Nunes, Rafael Borges Salera, Raquel Fabiane Nogueira, Juliana Maria Braga Sclauser, Poliana Mendes de Andrade, Luciana Priscila Marçal e Ana Paula Drummond-Lage.
A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.
Referência:
Gomes, M.d.C.M.F., Ferreira, P.M.d.V., Almeida, A.C.S.M. et al. Dysphagia, nutritional status, and quality of life in patients with head and neck cancer undergoing radiotherapy alone or combined with chemotherapy: an observational study. BMC Cancer 25, 416 (2025). https://doi.org/10.1186/s12885-025-13695-y
