Pesquisadores da Duke University avaliaram a resposta patológica completa (pCR) à quimioterapia neoadjuvante em pacientes com câncer de mama triplo negativo, de acordo com raça/etnia, assim como a sobrevida global (SG). Os resultados sugerem que a probabilidade de alcançar pCR e SG em pacientes com TNBC parece estar associada à raça/etnia.
A partir do National Cancer Database, Hanna Woriax e colegas identificaram mulheres com 18 anos ou mais com câncer de mama triplo negativo (TNBC, na sigla em inglês) com doença estágio I-III que receberam quimioterapia neoadjuvante (NAC) seguida de cirurgia no período de 2010 a 2019. Foram excluídas pacientes sem dados de raça/etnia ou patologia. Os endpoints primários foram taxas de resposta patológica completa (pCR) e sobrevida global (SG) com base na raça/etnia.
Um total de 40.890 mulheres com TNBC preencheram os critérios de inclusão (idade mediana [IQR], 53 [44-61] anos): 26.150 brancas não hispânicas (64%, NHW), 9.672 negras não hispânicas (23,7%, NHB), 3.267 hispânicas (8%), 1.368 asiáticas não-hispânicas (3,3%, NHA) e 433 outras pacientes não-hispânicas (1,1%, NHO). No geral, 29,8% demonstraram pCR (NHW: 30,5%, NHB: 27%, hispânicas: 32,6%, NHA: 28,8%, NHO: 29,8%).
Os autores descrevem que a SG não ajustada foi significativamente maior para aquelas com pCR em comparação com pacientes com doença residual (SG em 5 anos, 0,917 [IC 95%, 0,911 a 0,923] v 0,667 [IC 95%, 0,661 a 0,673], log-rank P < 0,001), e essa associação persistiu após ajuste para fatores demográficos e tumorais.
Os resultados relatados por Woriax et al. mostram que o efeito de alcançar pCR na SG não diferiu por raça/etnia (interação P = 0,10). No entanto, a probabilidade de alcançar pCR foi menor entre as pacientes negras não hispânicas (odds ratio [OR], 0,89 [IC 95%, 0,83 a 0,95], P = 0,001), enquanto entre as mulheres hispânicas a probabilidade de alcançar pCR foi maior (OR, 1,19 [IC 95%, 1,08 a 1,31], P = 0,001) do que entre as pacientes brancas não hispânicas. Após ajuste para fatores da paciente e da doença, incluindo obtenção de pCR, a raça/etnia permaneceu associada à SG para mulheres hispânicas (razão de risco [HR], 0,76 [IC 95%, 0,69 a 0,85], P < 0,001) e asiáticas não hispânicas (HR, 0,64 [IC 95%, 0,55 a 0,55] 0,75], P < 0,001).
“A probabilidade de alcançar pCR e SG em pacientes com TNBC parece estar associada à raça/etnia. Pesquisas adicionais são necessárias para compreender como a raça/etnia está associada às taxas de pCR e SG, sejam relacionadas a fatores socioeconômicos ou variáveis biológicas, ou ambos”, concluem os autores.
Apesar da melhoria global na sobrevida das pacientes com câncer de mama, persistem disparidades raciais/étnicas nos resultados. A partir de dados já publicados na literatura, Woriax e colegas lembram que entre 2015 e 2019, as taxas de mortalidade por câncer de mama entre mulheres negras não hispânicas permaneceram 41% mais altas em todos os estágios em comparação com mulheres brancas não hispânicas.
Embora os fatores socioeconômicos e o acesso ao tratamento desempenhem um papel, dados emergentes sugerem que diferenças na biologia do tumor também podem contribuir.
Referência: Hannah E. Woriax et al., Racial/Ethnic Disparities in Pathologic Complete Response and Overall Survival in Patients With Triple-Negative Breast Cancer Treated With Neoadjuvant Chemotherapy. JCO 0, JCO.23.01199 DOI:10.1200/JCO.23.01199