Onconews - Disparidades raciais e étnicas nos desfechos cardiovasculares entre sobreviventes de câncer

O pesquisador brasileiro Nickolas Stabellini (foto), afiliado à Case Western Reserve University, Augusta University e Hospital Israelita Albert Einstein, é primeiro autor de artigo publicado no periódico Current Oncology Reports que analisa as evidências atuais sobre as disparidades raciais/étnicas nos desfechos cardiovasculares entre sobreviventes de câncer, identificando fatores e propondo medidas para abordar as iniquidades em saúde.

“A literatura existente indica que a população negra apresenta piores resultados cardiovasculares após o diagnóstico tanto do câncer primário inicial, como do segundo câncer primário, com uma prevalência notavelmente mais elevada de eventos cardiotóxicos, particularmente entre sobreviventes de câncer de mama”, observam os autores.

Os fatores socioeconômicos que contribuem para estas disparidades incluem determinantes sociais ​​da saúde desfavoráveis, cobertura de seguros inadequada e racismo estrutural no sistema de saúde. Além disso, existe a suposição de que a modificação epigenética pró-inflamatória seja um fator contribuinte de variação genética.

Os autores defendem que a abordagem destas disparidades deve ser realizada de uma maneira multiperspectiva, abrangendo esforços para abordar as disparidades raciais e os determinantes sociais da saúde no sistema de saúde, aperfeiçoar as políticas e o acesso aos cuidados de saúde e integrar grupos raciais historicamente estigmatizados na pesquisa clínica. “As disparidades raciais e étnicas persistem nos desfechos cardiovasculares entre os sobreviventes de câncer, impulsionadas por causas multifatoriais, predominantemente associadas a determinantes sociais da saúde. É imperativo abordar estas desigualdades nos cuidados de saúde”, afirmam.

Stabellini observa que o trabalho coloca os holofotes sobre uma questão muito em voga atualmente: disparidades raciais e étnicas. “Nossa revisão destaca que um componente importante dessas disparidades nos desfechos cardiovasculares entre sobreviventes de câncer são os determinantes sociais da saúde. Complementando isso, trabalhos recentes do nosso grupo demonstram que fatores relacionados ao bairro/vizinhança são um dos principais preditores de eventos cardiovasculares em pacientes com câncer”, diz o pesquisador, acrescentando que um trabalho do grupo que foi destaque no JAHA (https://doi.org/10.1161/JAHA.123.033295) demonstrou o papel do estresse crônico, relacionado a um aumento de até 21% no risco de desfechos cardiovasculares em pacientes com câncer.

“O estresse crônico pode estar diretamente relacionado com adversidades nos determinantes sociais da saúde. Dessa forma, é crucial que, além de incluir essas populações na pesquisa clínica, especialmente nos ensaios clínicos, um movimento que vem ocorrendo gradativamente, a raça seja cada vez mais ente entendida como um constructo social. Assim, os provedores de saúde e formuladores de políticas públicas podem desenhar e pensar em ações que atuem diretamente nos determinantes sociais da saúde e, dessa forma, ajudem a mitigar as disparidades e nos aproximar da equidade em saúde”, conclui.

Referência:

Tan MC, Stabellini N, Tan JY, Thong JY, Hedrick C, Moore JX, Cullen J, Hines A, Sutton A, Sheppard V, Agarwal N, Guha A. Reducing racial and ethnic disparities in cardiovascular outcomes among cancer survivors. Curr Oncol Rep. 2024 Jul 13. doi: 10.1007/s11912-024-01578-7. Epub ahead of print. PMID: 39002054.